Ver cair o cedro anoso
Que campeava na serra,
Ver frio baixar à terra
O pobre velho bondoso
Que procurando repouso
Tropeçou na sepultura;
É triste, sim, é verdade,
Mas não tão grande a saudade
Nem a dor tão funda e dura,
Pois que ao velho e ao cedro altivo
Partido à voz da procela,
No mundo - jardim lascivo -
A vida foi longa e bela.

Mas ver a rosa do prado
Que a aurora deu cor e vida,
De manhã - flor do valado,
De tarde - rosa pendida!...

Mas ver a pobre mangueira
Na primavera primeira
Crescendo toda enfeitada
De folhas, perfume e flor,
Ouvindo o canto de amor
No sopro da viração;
Mas vê-la depois lascada
Em duas cair no chão!...

Mas ver o pobre mancebo
Em quem a seiva reluz,
No sonho cândido e puro
Nas glórias do seu futuro
Dourando a vida de luz
Mas vê-lo quando a sua alma
Ao som d'ignota harmonia
Se derramava em poesia;
Quando junto da donzela
- Cativo dos olhos dela -
Na voz que balbuciava
De amores falava a medo;
Quando o peito trasbordava
De crenças, de amor, de fé,
Vê-lo finar-se tão cedo,
Como as vozes dum segredo...
É dor demais - pois não é?!...

Indaiassú - 1857.