Suspiros poéticos e saudades (1865)/Preces da Infancia

Vós me vedes, Deus Eterno,
Como eu sou tão pequenina;
Minha alma é inda inocente,
Tão pura como a bonina.

Débeis como minhas vozes
São inda meus pensamentos;
Do mundo nada conheço,
Nem prazeres, nem tormentos.


Qual tenro botão de rosa
Que à sombra da rosa cresce,
Sem temer o vento, e a chuva,
De um frouxo raio se aquece.

Mas pouco a pouco crescendo,
Desabrocha, e cheiro exala,
Orna o prado que a sustenta,
E da roseira é a gala.

Assim eu filhinha tenra,
A meus pais devo esta vida;
A seu lado eles me educam,
Por eles serei querida.

Hoje inocente me chamam!
Oh como é bela a inocência!
É a virtude dos Anjos,
É das virgens a ciência.

Vós, oh Deus, que podeis tudo,
Concedei-me por piedade
Que este aroma da inocência
Me acompanhe em toda idade.


Oh meu Deus, dai à minha alma
Puro e santo pensamento,
Como o perfume do templo,
Que sobe ao vosso aposento.

Dai a meus pais longa vida,
E àqueles que à minha infância
Prestam socorros contínuos
Com tanto amor e constância.

Que felizes, que ditosos
Por vós, oh Deus, protegidos,
Passem seus dias, seus anos
Como astros, sem ser sentidos.

Vigorai minha fraqueza
Co'a vossa sabedoria.
Oh Deus, ouvi minhas preces,
Escutai-me neste dia.