Oh minha infância! Oh estação de flores!
De inocente ilusão alva saudosa!
Inda hoje te apresentas
Ante mim, como a imagem deleitosa
De um sonho que encantou-me a fantasia,
Ou como a aurora de um formoso dia.

Oh da infância atrativos lisonjeiros!
Mentirosos afetos!
Com que prazer amigos passageiros,
Inúmeros, na infância contraímos!

E quão fáceis após os repelimos,
De ligeiras palavras agastados.

Oh como é lindo
O tenro arbusto
Na primavera!
Como parece
Que se está rindo,
Quando o balança
Zéfiro brando;
Quando descansa
Sobre os seus ramos
O passarinho,
E modulando
Doces reclamos,
Vai o ar vizinho
Harmonizando!

Como é belo esmaltado de flores,
Exalando balsâmico aroma;
D'ele em torno voltejam amores,
E se escondem de baixo da coma.


Mas eis que o adusto
Vento do norte,
Soprando forte,
Já o abala;
O tenro arbusto
Neste tormento
Todo se dobra;
A verde gala
Amarelece;
E o duro vento,
Que em fúria cresce,
Vai arrancando
Folha por folha,
E sobre a terra
Secas lançando;
Té que despido
O deixa enfim.
O tempo assim
Nos vai roubando
Gratos prazeres
Da tenra idade,
Quantos amigos
A infância tem;

Até que vem
A puberdade
Com seus perigos;
E desta sorte
Chega a velhice,
Tronco gelado,
Desamparado;
Até que a morte,
Como um tufão,
Lança-o no chão!

Oh quão perto a velhice está da infância!
E quão perto da infância a morte adeja!

Genebra, outubro de 1834