Qual cratera lançando lava ardente

Quiz um joven marchar, só por mania,
Das lettras pela senda trabalhosa;
Diz-se—Vate, mas prenda tam famosa
Ninguém nos versos seus a descobria.

Começa a dar patada, e tam bravia,
Que logo (alçando a voz imperiosa)
Lhe brada a Natureza: Chega á prosa!
E o maldito a encostar-se á poesia!

(F. X. de Novaes.—Sonet.)



Qual cratera lançando lava ardente,
De Pompeia tragando a pobre gente,
Novo Anibal os mares agitando,
Arbustos e penedos derrubando,

Argentino Qnixote se appresenta
Com bulha que as cabeças atormenta!
E' Doctor em sciencias sociaes,
Conhece toda casta de animaes;
Em direito, supplanta o Savigny,
Mòrmente quando toma a—Paraty;
E nos fastos da grsin filosophia
Diz taes cousas que as carnes arripia!

Da Medicina o novo Chernoviz,
Faz charopes, do ferro tira o giz !
E, invadindo as bayas do Parnaso
O lugar conquistou do tal Pegaso !
A sabença nos cascos se lhe aninha,
E’ por todos chamado o—Dom Fuinha;
E da torva montanha da cachóla
Pende a velha e sediça craminhola!

Um taful que encarou o tal portento
Affirma que o coitado era jumento;
E querendo provar o que dizia,
Mostrava uma castrada poesia:
D’asneiras enchurrada furibunda
Onde o erro fallaz superabunda:
Era prosa sediça, mui safada
Asneira sobre asneira amontoada!
E no fim da maçante frioleira
A firma do gran vate—babuzeira.

Correu, em peso, a sabia Academia,
Para ver o planeta que luzia;
Tambem veyo a Policia, a Medicina,
Discutir tanta asneira em sabbatina!
Miraram do alto a baixo o sacripante
E vendo que o maroto era pedante,
Na barca de Caronte o encaixaram,
P’ra casa dos orates o mandaram.

Lá se foi o talento desmedido,
Todo o povo deixando espavorido,
Habitar os saloens d’um hospital
Onde cura terá para o seu mal.