Morreu uma vez um rei, deixando quatro filhos, e sem ter designado o sucessor. Reuniu-se a corte, e decidiu-se que a coroa devia pertencer, não ao mais velho dos quatro filhos, mas sim ao mais digno.

Resolveram além disso que o cadáver do rei fosse posto de pé contra um muro, e que o príncipe que acertasse melhor com uma flecha naquele alvo, seria o escolhido para sucessor.

Começou o mais velho. Esticou a corda do arco, apontou durante muito tempo, e a flecha foi atravessar a mão esquerda do defunto. O príncipe soltou grito de alegria, cuidando que seus irmãos atirariam pior, e que por conseguinte seria ele quem viria a reinar.

O segundo acertou em cheio na cara do rei, soltando um grito ainda mais alegre do que o outro príncipe.

O terceiro varou o coração de seu pai, e os seus gritos de triunfo quase que chegavam ao céu, porque lhe parecia impossível acertar melhor.

Quando chegou a vez do quarto filho, tiveram de lhe meter nas mãos as flechas e o arco: mas, desde que olhou para o alvo, arrojou as armas longe de si, e desatou a chorar:

— «Oh! meu pai! meu querido pai! exclamou ele, como poderei eu jamais consolar-me de ver o teu corpo crivado de flechas pela mão de teus próprios filhos!»

Os grandes da corte ouvindo isto proclamaram-no rei, como sendo o mais digno.