Os nossos financeiros do congresso, ou fora dele, são deveras interessantes. Tateiam, hesitam, andam às apalpadelas, nos casos que mais precisam de decisão.
Resolveram eles, para salvar a Pátria, que anda a níqueis, que os empregados públicos fossem tributados de maneira mais ou menos forte.
Nada mais justo. Como já tive ocasião de dizer, é razoável que a Pátria "pronta", "morda" os seus filhos "prontos"; e eu, que estou em causa, não protesto absolutamente.
Estou cordialmente disposto a contribuir com os meus "caraminguaus" para a salvação do país mais rico do mundo. Agora, uma coisa, caros senhores legisladores: quanto tenho de pagar?
Uma hora dizem: dez por cento. Faço os meus cálculos e digo de mim para mim: suporto.
E voto porque nos cortem certas despesas suntuárias, como o governo anda a cortar a dos automóveis.
Vem, porém, um outro "salvador" e diz: você, "Seu" Barreto, vai pagar unicamente cinco por cento.
Tomo a respiração, vou para casa e abençôo o congresso: homens sérios!
Viram bem que dez por cento era muita coisa!
Não confesso a minha alegria à mulher e aos filhos, porque os não tenho, mas canto a satisfação pelas ruas, embora os transeuntes me tomem por louco.
Ainda bem não dou largas à minha alegria, quando chega um outro e propõe: você deve ser descontado em doze por cento.
Ora bolas! Isto também é demais! Então eu sou o holandês que paga o mal que não fez?
Não é possível que os senhores legisladores pensem que posso assim ser esfolado, sem mais nem menos; e os meus vencimentos estejam assim dispostos a serem diminuídos, conforme a fantasia de cada um.
Entro na subscrição para manter o Ministério da Agricultura, mas de conformidade com as minhas posses. Notem bem.
Se ele precisa de tanto dinheiro, nada mais razoável do que apelar para o visconde de Morais, o Gaffrée ou mesmo para o Rocha Alazão, que, em tais coisas de "facadas" é mestre consumado, respeitado e admirado por todos, porquanto - confessemos aqui entre amigos - quem não deu a sua "facadinha"?
Correio da Noite, Rio, 18-12-1914.