Quatro regras de diplomacia/Á memoria do Duque d’Avila e de Bolama

Á MEMORIA

DO

DUQUE D’AVILA E DE BOLAMA

A impressão d'este livro estava bastante adiantada, quando veiu a fallecer o eximio personagem a quem vai dedicado.

Com este lamentavel acontecimento, Portugal perdeu um dos seus mais illustres Estadistas, cujos altos e raros merecimentos, já de todos reconhecidos, se farão com o tempo sentir cada vez mais, a medida que a imparcialidade, que a morte costuma affirmar, fizer sobresahir, pela recordação dos factos, a sinceridade de genio do Duque d'Avila e de Bolama, a nobreza, independencia e solidez do seu caracter, e os relevantissimos serviços por elle prestados á Patria, que sempre amou com nunca desmentida lealdade. Se a morte traz comsigo o esquecimento, é tambem ás vezes um grande revelador, segundo uma lei da natureza que Shakespeare formulou em conhecidos versos:

«… what we have we prize not to the worth,
Whiles we enjoy it; but being lack’d and lost,
Why, then we rack the value, then we find
The virtue, that possession would not shew us
Whiles it was ours».
[1]

Pela minha parte, nunca deixarei de consagrar um sincero tributo de respeito e gratidão á memoria veneranda do nobre Duque d'Avila e de Bolama, e uma saudosa lembrança às muitas provas de bondade e de estima recebidas d'este preclaro varão.

Lisboa, em 10 de
Junho de 1881.

Visconde de Figanière.

  1. Much ado, etc., Ac., IV sc. 1.