Mulher, confias muito em tua eternidade:
Pensas que hás de prender nas mãos a primavera,
Que as rosas da manhã durarão, que não há de
Ter para ti o tempo o rugido da fera,
Que entre as garras mutila a carne sem piedade,
E os lírios brancos do rosto gentil lacera:
Entre um beijo e um sorriso aí ruge a mortandade
Dos sonhos de oiro, que cria em nós a quimera!...
Hão de fugir de ti, como ao inverno que chega,
Em longas cordas vão fugindo as andorinhas:
Cobrirão lençóis d'água o cadáver da veiga...
E então te lembrarás das lindas canções minhas,
Cheias daquele meigo olhar da noite meiga,
E para as quais o teu olhar de sol não tinhas.