Há coisa de sete anos, vivia nesta boa cidade um homem de seus trinta anos, bem apessoado e bem falante, amigo de conversar, extremamente polido, mas extremamente amigo de espalhar novas.

Era um modelo do gênero.

Sabia como ninguém escolher o auditório, a ocasião e a maneira de dar a notícia. Não sacava a notícia da algibeira como quem tira uma moeda de vintém para dar a um mendigo. Não, senhor.

Atendia mais que tudo às circunstâncias. Por exemplo: ouvira dizer, ou sabia positivamente que o Ministério[1] pedira demissão ou ia pedi-la. Qualquer noveleiro diria simplesmente a coisa sem rodeios. Luís da Costa, ou dizia a coisa simplesmente, ou adicionava-lhe certo molho para torná-la mais picante.

Às vezes entrava, cumprimentava as pessoas presentes e, se entre elas alguma havia metida em política, aproveitava o silêncio causado pela sua entrada para fazer-lhe uma pergunta deste gênero:

—Então, parece que os homens...

Os circunstantes perguntavam logo:

—Que é? Que há?

Luís da Costa, sem perder o seu ar sério, dizia singelamente:

—É o Ministério que pediu demissão.

—Ah! Sim? Quando?

—Hoje.

—Sabem quem foi chamado?

—Foi chamado o Zózimo.

—Mas por que caiu o Ministério?

—Ora, estava podre.

Etc. etc.

Ou então:

—Morreram como viveram.

—Quem? Quem? Quem?

Luís da Costa puxava os punhos e dizia negligentemente:

—Os ministros.

Suponhamos, agora, que se tratava de uma pessoa qualificada que devia vir no paquete[2]: Adolfo Thiers ou o príncipe de Bismarck.

Luís da Costa entrava, cumprimentava silenciosamente a todos, e em vez de dizer com simplicidade:

—Veio no paquete hoje o príncipe de Bismarck.

Ou então:

—O Thiers chegou no paquete.

Voltava-se para um dos circunstantes:

—Chegaria o paquete?

—Chegou, dizia o circunstante.

—O Thiers veio?

Aqui entrava a admiração dos ouvintes, com que se deliciava Luís da Costa, razão principal de seu ofício.

  1. Ministério: Se refere ao primeiro-ministro, pois, na época o Brasil era uma monarquia parlamentarista
  2. Paquete: Navio veloz e luxuoso da época