1Quem vos mete, Fr. Tomás,
em julgar as mãos de amor,
falando de um amador
que pode dar-vos seis e ás?
Sendo vós disso incapaz,
quem vos mete, Fr. Franquia,
julgar, se foi policia
o vômito, que arrotastes,
se quando vós o julgastes,
vomitastes uma asnia:
  
2Sabeis, por que vomitou
aquele amante em jejum?
lembrou-lhe o vosso budum,
e a lembrança o enjoou;
e porque considerou,
que o tal budum vomitado
era um fedor refinado,
por não ver poluto um céu,
o cobriu com seu chapéu,
e em cobri-lo o fez honrado.
  
3Vós sois um pantufo em zancos,
mais oco do que um tonel,
e se estudais no burel,
entendereis de tamancos:
que as ações dos homens brancos,
tão brancos como Fuão,
não as julga um maganão
criado em um oratório,
julgador de refectório,
que dá o nosso Guardião.
  
4O que sabeis, Frei Garrafa,
é a traça, e a maneira,
com que estafais uma Freira,
dizendo, que vos estafa:
vós saís com a manga gafa
do palangana, e tigela
d'ovos moles com canela,
e tão mal correspondeis,
que esse tempo, que a comeis,
são as têmporas para ela.
  
5Item sabeis tresladar
falto de próprios conselhos
de trezentos sermões velhos
um sermão para pregar:
e como entre o pontear,
e cirgir obras alheias
se enxergam vossas idéias,
mostrais pregando de falso,
que sendo um Frade descalço,
andais pregando de meias.
  
6E pois vossa Reverência
quis ser julgador de nora,
tenha paciência, que agora
se lhe tira a residência:
e inda que a minha clemência
se há com dissimulação,
livre-se na relação
dos cargos, em que é culpado
ser glutão como um capado,
como um bode fodinchão.