— Quem procura sempre encontra, diz um velho proverbio; quero ver por experiencia, disse um dia um rapaz, se esta maxima é verdadeira.
Poz-se a caminho, e foi apresentar-se ao governador d'uma grande cidade.
— Senhor, disse-lhe elle, ha muitos annos que vivo tranquillo e solitariamente, e a monotonia fatigou-me. Meu amo disse-me muitas vezes — Quem procura sempre encontra, e quem porfia mata caça. Tomei uma grande resolução. Quero casar com a filha do rei.
O governador mandou-o embora, imaginando que era um doido.
O rapaz voltou no dia seguinte, no outro e no outro, e assim durante uma semana, sempre com a mesma vontade inabalavel, até que o rei ouviu fallar o rapaz da sua louca pretensão. Surprehendido com uma idéa tão extravagante, e, querendo divertir-se, disse-lhe o rei:
— Que um homem distincto pela gerarchia, pela coragem, pela sciencia, pensasse em casar com uma princeza, nada mais natural. Mas tu, quaes são os teus titulos? Para seres o marido de minha filha é necessario que te distingas por alguma qualidade especial ou por um acto de valor extraordinario. Ouve. Perdi ha muito tempo no rio um diamante d'um valor incalculavel. Aquelle que o encontrar obterá a mão de minha filha.
O rapaz, contente com esta promessa, foi estabelecer-se nas margens do rio; logo de manhã começava a tirar agua com um balde pequeno, e deitava-a na areia, e, depois de ter assim trabalhado durante horas e horas, punha-se a resar.
Os peixes inquietos ao verem tão grande tenacidade, e receiando que chegasse a esgotar o rio, reuniram-se em conselho.
— Que quer este homem? perguntou o rei dos peixes.»
— Encontrar um diamante que caiu ao rio.»
— Então, respondeu o velho rei, sou d'opinião que lh'o entreguem, porque vejo qual é a tempera da vontade d'este rapaz; mais facil seria esgotar as ultimas gotas do rio, do que desistir da sua empreza.»
Os peixes deitaram o diamante no balde do rapaz, que casou com a filha do rei.