FORÇA— AMOR
Oque destroe os mundos,
E dá que os mar's frementes,
Em volta aos continentes,
Cavem abysmos fundos;
A mão que faz que a noite,
Sem luz, amor, encanto,
Se envolva em negro manto
Aonde o mal se acoite;
Que pôs no olhar o brilho,
E deu ao labio o riso,
Á planta o pomo liso.
Seio de mãe ao filho;
O que é verbo da vida,
Do amor, da luz, do affecto,
O que sustenta o insecto
E a planta desvalida;
E disse á nuvem branca
— Em densas trevas morre,
E disse ao vento — corre,
Assola, espalha, arranca;
Quem faz da vida morte,
De puro incenso, fumo;
E deixa, em mar sem rumo,
O homem luctar co'a sorte;
Se é Deus... oh! não! não pode
Do amor o foco immenso,
Que abraza em fogo intenso,
Se á mente nos acode;
Não pode o sôpro d'elle
Mandar a morte e o pranto,
Em vez do doce encanto,
Que immenso amor revele!
Algum genio das trevas,
— Espirito infecundo —
Espalha sobre o mundo
Estas vinganças sevas.
Não elle; o Deus suave!
D'aquelle seio immenso,
Só manda á terra o incenso
E o balsamo que a lave!
— «Estranhas ver a morte?
De vida andas repleto:
O Deus, o Deus do affecto
Tambem é o Deus forte:
Poeta! és tu que ignoras
— Envolto em sonho aéreo —
O revolto mysterio
De mais revoltas horas !» —
Dezembro, 1860.