Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/CXLVI
Os Historiadores, não somente são opostos entre si, mas cada um a si mesmo muitas vezes é contrário. Procopo na sua história, dá louvores imensos ao Emperador Justiniano, e à Emperatriz Teodora, sua mulher, a Belisário, e a Antonina; e nos seus Anecdotos os critica excessivamente. Os mármores, e bronzes, não servem na história de provas infalíveis: os monumentos mais antigos têm dado ocasião aos mais celebrados erros: as primeiras conjecturas (bem, ou mal fundadas), adquirindo com o tempo a autoridade da história, foram passando à posteridade como cousas certas; temos exemplo na memorável inscrição posta no arco do triunfo de Tito; a qual dizia, que antes daquele Emperador ninguém tinha tomado, nem ainda emprendido o sitiar Jerusalém, sendo que (sem recorrer à história sagrada, que ainda então poderia ser menos bem sabida dos Romanos) aquela Cidade foi uma das conquistas de Pompeu, de donde procedeu o chamar-lhe Cícero, o seu Jerosolimário. Acresce a isto, que os mais notáveis acontecimentos são os em que as histórias mais variam, e em que os Autores concordam menos. Quantos pareceres tem havido sobre a guerra de Tróia? Uns querem que ela fosse verdadeira, outros dizem que não foi mais do que uma bem composta fábula.