Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/LVIII
O entendimento nos homens, é como a fermosura nas mulheres; não há desgraça de que um espelho as não console, nem tristeza de que se não esqueçam, vendo-se em estado de inspirar amor; a um homem infeliz serve de alívio, o considerar-se sábio; este pensamento, ou esta vaidade lhe faz adormecer o mal que sente; como se a mulher só viesse ao mundo, para ser querida, e o homem só nascesse para ser discreto; entre um, e outro a diferença é grande: a mulher fermosa, com o tempo conhece que já o não é; o homem entendido nunca alcança que só o foi; a mulher não pode deixar de ver o estrago, que os anos fazem na beleza, o homem não penetra a ruína, que o tempo causa ao entendimento; mas não importa que assim seja, porque é justo que o homem se desvaneça sempre, e que tenha fim na mulher a vaidade: ninguém adora ao homem por entendido, e à mulher todos a idolatram por fermosa. Acabe pois a vaidade na mulher, porque foi tão excessiva, e no homem dure, porque foi mais moderada.