Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XC
Conhecemos as cousas, não pelo que elas são em si, mas pela diferença, que entre elas há; e esta diferença consiste em não serem umas o mesmo que outras são; a essência das cousas nos é totalmente oculta; e assim conhecemos os objectos, pela diversidade das figuras, e não pela substância deles; a nossa notícia, toda se compõe de comparações; por isso aquilo que não tem cousa, que lhe seja em alguma parte semelhante, fica sendo inexplicável: isto sucede ao amor; ninguém o pode explicar verdadeiramente, porque não há cousa, a que seja verdadeiramente comparável, o mais a que o conceito chega, é a servir-se de expressões opostas entre si; como quando se diz, que o amor é fogo, que é neve, que é alívio, que é pena, que é luz, que é sombra.