Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XIII
A vaidade diminui em nós algumas penas; porém aumenta aquelas, que nascem da mesma vaidade: a estas nem o esquecimento cura, nem o tempo; porque tudo o que ofende a vaidade, fica sendo inseparável da nossa memória, e da nossa dor. Entre os males da natureza, alguns há que têm remédio; porém os que têm a vaidade por origem, são incuráveis quási todos: e verdadeiramente como há-de acabar a pena, quando a lembrança da ofensa basta para fazer, que dure em nós a aflição? Ou como pode cessar a mágoa, se não cessa a vaidade, que a produz? Alguns sentimentos há, que se incorporam e unem de tal sorte a nós, que vêm a ficar sendo uma parte de nós mesmos.