Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XLVI
Os homens, a quem a concorrência de acasos felices faz chamar grandes, presumem, que ainda que deles não depende a existência do mundo, contudo depende deles a ordem, e a economia das cousas: todos falam nas suas acções, e nisto consiste a sua maior, e mais estimada vaidade. Deixamos livremente o comércio dos homens, mas não renunciamos o viver na admiração, e notícia deles; consentimos em apartar-nos de sorte, que nunca mais sejamos vistos, mas não consentimos em não ser lembrados; finalmente queremos, que se fale em nós: as mesmas sepulturas, que são uns pequenos teatros das mais lastimosas tragédias, espantam menos pelo horror das sombras, que pelo silêncio.