Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XXI
A mesma vaidade, que nos separa do comércio dos homens, para sepultar-nos na solidão de um Claustro, vem depois a conservar-nos nele, e por um mesmo princípio nos conduz, e nos faz permanecer sempre no retiro. Fazem os homens ludíbrio da mudança da vontade, por isso muitas vezes somos firmes só por evitar o desprezo, vindo a parecer persistência na vocação, o que só é constância na vaidade. Vivemos temerosos, de que as nossas acções se reputem como efeitos da nossa variedade: queremos mudar, mas tememos o parecer vários; e assim a constância na virtude não a devemos à vontade, mas ao receio; não a conservamos por gosto, mas por vaidade; e esta assim como nos faz constantes na virtude, também outras vezes nos faz constantes na culpa.