Mas Hesíodo, o poeta, diz também que ele ouviu assim das Musas em relação à natureza, e as Musas eram filhas de Júpiter. Quando por nove noites e dias juntos, Júpiter, através do excesso de paixão, deitou-se ininterruptamente com Mnemosine, que Mnemosine ficou grávida das nove Musas, tendo ficado grávida de cada uma em cada noite. Tendo então invocado as nove Musas da Pieria, que é o Olimpo, ele as exortou com a seguinte instrução:

“Assim que os deuses e a terra foram feitos[1],
Rios, profundezas infinitas, e oceano surgiram;
E estrelas brilhantes, e céus espaçosos acima;
Eles conquistaram a coroa e dividiram a glória,
E a princípio eles ocuparam o valioso Olimpo.
Estas (verdades), vós Musas, digam me, disse ele,
Da primeira e da próxima erguem-se.
Caos, sem dúvida, foi o primeiro a erguer-se; após veio
Terra, ampla e larga, tornando seguro o trono de todos os imortais,
Que protegem os picos do alvo Olimpo;
E o Tártaro, com brisas, no fim da terra;
E Amor, que é a mais bela dos deuses imortais,
Tomando conta de todos os deuses e homens,
Suprimido no seio a mente e o sábio conselho.
Mas Erebus, do Caos e da obscura Noite, ergue-se;
E, por sua vez, da Noite, o Ar e o Dia, ambos nascem;
Mas Terra primordial suavemente gera
O Céu tempestuoso para velá-la ao redor em todo o lado,
Para sempre estão os deuses felizes pelo trono seguro.
E adiante ela trouxe das altas colinas, os abrigos agradáveis
Das ninfas que habitam ao longo das florestas altas.
E também o Mar estéril gerou, arremessado pelas ondas,
O Dilúvio, à parte da adorável Amor; mas depois,
Abraçando ao Céu, Oceano procriou com redemoinhos profundos,
E Céos e Créos, e Hipérion, e Japeto,
E Téia e Réia, e Têmis e Mnemosine,
E Febe, coroada graciosamente, e a bela Tétis
Mas depois destes nasceu por último[2] o impiedoso Cronos,
O mais violento dos filhos, ele detestou seu exuberante pai,
E se aliou à família dos Ciclopes, que tinham sentimentos selvagens”.

E todo o resto dos gigante desde Cronos, Hesíodo enumera, e em algum lugar diz que Júpiter nasceu de Réia. Todos estes, então, elaboraram as afirmações antecedentes na doutrina a respeito da natureza e criação do universo. Mas todos, afundando entre o que é divino, ocuparam a si mesmos sobre a substâncias das coisas existentes[3], ficando chocados com a magnitude da criação, e supondo que constituem a deidade, cada especulador seleciona uma diferente porção do mundo, de acordo com a sua preferência; falhando, no entanto, ao discernir o Deus e criador destes.

Considero que explicamos o suficiente sobre as opiniões daqueles que desenvolveram sistemas filosóficos entre os gregos; e que destes heréticos, aproveitando a ocasião, empenharam-se para estabelecer as doutrinas que serão depois de um tempo declaradas. Parece, entretanto, útil que primeiro expliquemos os ritos místicos e o as doutrinas imaginárias a respeito das estrelas; porque heréticos aproveitando a ocasião, são considerados pelas multidões por fazerem prodígios. Nós devemos elucidar as opiniões medíocres destes.

  1. Há muitas diferenças verbais da versão original com a de Hipólito. Podem ser vistas comparando com o próprio texto de Hesíodo. O lugar próprio que Hesíodo ocupa na história da filosofia é indicado por Aristóteles em Metafísica. O Stagyrite detecta na cosmogonia de Hesíodo o princípio do "amor", o começo da necessidade de reconhecer uma causa eficiente para explicar o fenômeno da natureza. Foi Aristóteles, entretanto, que desenvolveu a ciência da causa; e quanto a isso, a humanidade lhe deve gratidão.
  2. Ou "mais jovem" ou "mais vigoroso". Esta palavra significa literalmente "aquele que cria armas" (para o serviço, como já dissemos).
  3. "A maioria daqueles que inicialmente formaram sistemas de filosofia, consideram que (o mundo)subsite numa forma de matéria, que é sozinha o princípio de tudo". Aristóteles, Metaphisics, book i. c. iii. p. 13 (Bohn's ed.).