Justino[1] opôs-se completamente do ensino das Escrituras, e dos ensinos escritos e orais dos grandes evangelistas, assim como a Palavra instrui os Seus discípulos, dizendo: "Não vá pelos caminhos dos gentios"[2], ou seja, os discípulos não devem atender à doutrina fútil dos gentios. Esse (herege) se esforça para levar seus ouvintes ao conhecimento dos prodígios dos gentios, e das doutrinas inculcadas por eles. E narra, palavra por palavra, histórias lendárias dos gregos, e não ensina ou entrega seus perfeitos mistérios a menos que tenha prendido o desavisado com um juramento. Então ele conta (estas) fábulas para persuasão, a fim de que aqueles que estão estudando esses livros incalculavelmente levianos possam ter suas respostas nos detalhes dessas lendas. Assim tudo ocorre como com alguém que faz uma longa jornada, e entrando numa estalagem, para ter repouso. Assim também, quando mais uma vez eles são induzidos a estudar a doutrina difusa de suas palestras, eles possam não criticar eles, indo sob instrução desnecessariamente enfandonha, e possam ficar estupefatos com a transgressão ensinada por (Justino); e ele prende seus seguidores com juramento terríveis para não publicar ou abjurar essas doutrinas, e forças sob o conhecimento (da sua verdade). E desta forma ele entre os seus mistérios ímpios, de acordo com as afirmações anteriores, utilizando-se das lendas helênicas, e de livros que, de alguma forma, têm semelhança com as heresias já mencionadas. Assim, forçados a ficarem juntos, são levados ao abismo profundo de poluição, repetindo as mesmas doutrinas, e detalhando as mesmas lendas, mas com diferentes métodos. Todos eles se denominam gnóstico neste sentido peculiar, que somente eles têm o conhecimento maravilhoso do (Ser) Perfeito e Bom.

  1. O que Hipólito escreveu sobre Justino é recente nos estudos. Não há menção dele na história eclesiástica. É evidente, porém, como Simão Mago, que ele foi contemporâneo dos apóstolos Pedro e Paulo. Justino, e sua seita ofita, são tratados por Hipólito e Irineu com uma posição mais importante, em relação às semelhanças com o sistema de Simão, ou sua ramificação, o valentinianismo. Os ofitas enxertaram ensinos do judaísmo frígio e do gentilismo valentiniano no cristianismo; do valentinianismo, tiraram as especulações do paganismo asiático, e do primeiro absorveram as corrupções cabalísticas do judaísmo. O elemento judaico ficou proeminente nas fases sucessivas do valentinianismo, que produziu uma fusão das seitas gnósticas mais antigas e de Simão. Agora Hipólito a seita ofita antes de sua união com o valentinianismo. Aqui, pela primeira vez, temos uma delineação autêntica dos primitivos ofitas, sendo valioso para os estudos.
  2. Mateus 10:5