Ao outro dia, que foi o dia 2 de maio do dito ano, a armada fez-se de vela para a sua viagem para ir à volta do cabo da Boa Esperança, o qual caminho seria através do mar mais de 1.200 léguas, isto é, quatro milhas por légua e a 12 dias do dito mês, seguindo o nosso caminho, apareceu um cometa para as partes da Arábia, com uma cauda muito comprida, o qual apareceu de contínuo 8 ou 10 noites. E um domingo, que eram 24 dias do dito mês de maio, seguindo toda a armada junta com bom vento, com as velas a meia árvore sem moneta por causa de uma chuva que tivemos no dia anterior, e seguindo assim, veio um vento tão forte pela vante e tão repentino, que não o notamos senão quando as velas ficaram atravessadas nos mastros. Naquele instante se perderam quatro naus com toda a sua gente, sem podermos prestar-lhes socorro algum. As outras sete que escaparam, estiveram em perigo de perder-se. E assim tomamos o vento de popa com mastros e velas rotas, e à misericórdia de Deus andamos assim todo aquele dia. E o mar inchou de tal modo que parecia que subíamos ao céu. E o vento de repente descaiu, embora fosse ainda tão grande a tormenta, que não tínhamos desejo de dar velas ao vento. E navegando com esta tormenta sem velas, perdemo-nos de vista uns e outros, de modo que a nau do Capitão com mais duas seguiram outro caminho e outra nau chamada El-Rei, com mais duas, seguiram outro, e a outra por outro caminho. E assim passamos com esta tormenta 20 dias, sem dar uma vela ao vento. (...)