Rodando terras sem conto,
Serras sobindo confusas,
Cortando valles sem ordem,
Defesas rompendo incultas.
Tres Monarcas do Oriente,
A quem o affecto executa,
Nos favores que reparte,
Nas finezas que accumulla.
Ao Rey do mundo nacido,
Buscão numa choça oculta,
Para o carinho desfeita,
Se para o abrigo nùa.
Vem de hũa Estrella guiados,
Cujo resplandor lhe inculca,
Certezas no que pretendem,
No que desejão venturas.
Seguem seus rayos brilhantes,
Porque a Belem os conduza,
E de dia lhe anoutessa,
Quem de noute lhes madruga.
Junto da Corte de Herodes,
A Estrella se dificulta,
Que com Herodes ninguem
Pòde ter estrella nunqua.
Os Pastores que das serras
Entrar vião tanta turba,
Da novidade admirados,
Arma tocavão em chusma.
- Estribilho.
Ou dalem,
Passai da banda daquem,
Ponde fogo a esse facho,
Que pellas serras abaxo
Vejo vir, vejo vir, vir, vir,
Coroando esses cabeços,
Mil gentes que não conheço;
Com despojos carregados
Em Camellos corcovados,
E gente de negra cor,
Toca o tambor,
E a garrida em som de guerra;
Que vir gente à nossa terra
Sem nos dizer ao que vem,
Ha de causar turbação
Em todo Hierusalem.
- Coplas.
L | Todos a Belem chegàrão, |
Mas os Pastores suspensos, | |
De ver entrar tres Monarcas | |
Por hum Portal tão pequeno. | |
S | Se buscavão desenganos, |
Mais se enredavão no enleyo, | |
Pois quanto mais apalpavão, | |
Então entendião menos. | |
M | Vião que ao nascido Infante, |
Davão tres Reys de joelhos, | |
Em tributos de alto porte, | |
Com Ouro, Myrra, & Incenso. | |
[4] | Vião tanto Gentilhomem, |
Tanto nobre Cavalleiro, | |
Tanto Ancião venerando, | |
Tanto cortès rendimento. | |
L | Tanta tòga rossagante, |
Tanto rico reposteiro, | |
Tanta almalafa bordada, | |
Tanto turbante turquesco. | |
S | Tanto Porteiro da Cana, |
Tanta Massa de respeito, | |
E quanto mais se admiravão, | |
Mais longe estavão do certo. | |
M | Se do que alcançava a vista |
Querião fazer reflexo, | |
A multidão os turbava | |
De tanto galan mancebo. | |
4 | Se no Ceo punhão os olhos, |
Vião mil Anjos descendo, | |
Com tanta luz, que cuidavão, | |
Que cahia o Firmamento. | |
L | Se reparavão na Estrella, |
Que estava rayos vertendo, | |
Cometa lhes parecia, | |
E tremião sem remedio. | |
S | Se o Portal querião ver, |
Sem entender o mysterio, | |
Vião que de palha, & fogo, | |
Não se contrahia incendio. | |
M | Se aos cortesaõs perguntavão |
A razão deste successo, | |
Huns lhe fallavão Hebraico, | |
Outros respondião Grego. | |
4 | Se dos negros temerosos |
Querião fugir dos negros, | |
Quando dos negros fugião | |
Se encontràvão cos Camellos. | |
L | Se se alegravão de ver |
Alguns animais pequenos, | |
Logo o contento perdião | |
Com Elephantes tremendos. | |
S | Se fugião dos cavallos, |
Que prometem, & dão presto, | |
Logo cahião sobre elles | |
Mil alabardas de Archeiros. | |
M | Se os Dormedarios topàvaõ |
Tanto tremião de medo, | |
Que fugião mais depressa, | |
Que os Dormedarios correndo. | |
4 | Se vièrão duvidosos |
Tambem se forão perplexos, | |
Trantando de porse em arma | |
Contra os Reays forasteiros. |
- Estrib.
Ou dalem, &c.