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    Só vivo as horas que passo
    Junto de ti, meu amor,
    Tua cintura em meu braço,
Meu beijo em tua bocca em flor...

    Só assim vivo, querida,
    Pois tudo mais não é vida.




    Ventura que mal gotteja,
    Triste do amor que se esconde,
    E só acha de onde em onde
    Um acaso que o proteja;

    Só alcanço o teu carinho
    Nesta sombra de folhagem,
    Onde, como ave selvagem,
    Nosso amor tem o seu ninho.

    Por entre as moitas vagueio,
    Caminho, paro, indeciso...
    Virás ou não? E agoniso
    Entre a esperança e o receio.

    Por toda a floresta, cheia
    De um rumor vago e perdido,
    Cuido escutar o ruido
    Dos teus pésinhos na areia.

    Volto-me sobresaltado
    Só porque uma ave deteve
    O vôo, e um ramo, de leve,
    Estremeceu ao meu lado.

    E emquanto na sombra curto
    Essa impaciencia hesitante
    Por ternuras de um instante,
    Por beijos dados a furto,

    Cheio de inveja reparo
    Nas borboletas que em bando
    Passam felizes, amando
    Na plena luz do sol claro...

    Ventura que mal gotteja,
    Triste do amor que se esconde,
    E só acha de onde em onde
    Um acaso que o proteja.

    Amor que a sombra encarcera,
    E foge ao sol e ás estradas...
    Fossemos nós de mãos dadas
    Pela vida e a primavera!

    De subito, ouço teus passos:
    D’entre folhagens de arbusto
    Olhas, tremula de susto,
    Caes palpitante em meus braços.

    E como a cançada abelha
    Que suga a flor, e adormece,
    Meu beijo poisa, e se esquece
    Em tua bocca vermelha...




    Logro só de espaço a espaço
    Algum momento de amor,
    Tua cintura em meu braço,
Meu beijo em tua bocca em flor.

    Ai, eu só vivo, querida,
    Pedaços da minha vida...