(Rodolphe Bringher)
Se havia um homem que amasse a tranqüilidade, era esse o bom e honrado sr. Bougy. Mas o sr. Bougy tinha uma mulher, uma filha, um filho, um cachorro e um papagaio; e o seu papagaio gritava, seu cachorro latia, seu filho soprava uma gaita, sua filha tocava violão e sua mulher tocava piano. Por tudo isso, o sr. Bougy, que amava a tranqüilidade, não vivia tranqüilo.
Certa noite, tudo dormia na casa do sr. Bougy. O papagaio estava calado. O cão repousava em silêncio. O filho cochilava. A filha sonhava. A mulher roncava, mas docemente.
De repente, ouviu-se um rumor inquietante, no andar térreo. De um pulo, o sr. Bougy se pôs de pé, um revólver na mão. Na sala de jantar, gritou:
— Mãos no ar!
Dois ladrões estavam ali, e puseram, logo, a seus pés, todos os despojos que já haviam arrumado. Feito isso, levantaram as mãos.
— Que tem nesse embrulho? — indagou o sr. Bougy.
— É o cachorro, que nós estrangulamos.
— E no outro?
— O papagaio, a que torcemos o pescoço.
— E no outro?
— Uma gaita e um violão.
— É tudo?
— É tudo.
— Muito bem, — concluiu o sr. Bougy, — levem tudo... Eu dou tudo isso a vocês, mas com uma condição.
— ?...
— Levem também o piano!