Falava o sol. Dizia:
"Acorda! Que alegria
Pelos ridentes céus se espalha agora!
Foge a neblina fria.
Pede-te a luz do dia,
Pedem-te as chamas e o sorrir da aurora!"

Dizia o rio, cheio
De amor, abrindo o seio:
"Quero abraçar-te as formas primorosas!
Vem tu, que embalde veio
O sol: somente anseio
Por teu corpo, formosa entre as formosas!

Quero-te inteiramente
Nua! quero, tremente,
Cingir de beijos tuas róseas pomas,
Cobrir teu corpo ardente,
E na água transparente
Guardar teus vivos, sensuais aromas!"

E prosseguia o vento:
"Escuta o meu lamento!
Vem! não quero a folhagem perfumada;
Com a flor não me contento!
Mais alto é o meu intento:
Quero embalar-te a coma desnastrada!"





Tudo a exigia... Entanto,
Alguém, oculto a um canto
Do jardim, a chorar, dizia: "Ó bela!
Já te não peço tanto:
Secara-se o meu pranto
Se visse a tua sombra na janela!"