Se eu fôra dos reis esse rei d’harmonia

Á EXM.ª SENHORA

D. M. J. Peixoto.


Se eu fôra dos reis esse rei d’harmonia
D’Achilles famado o sublime cantôr,
Na lyra doirada cantára ditoso
Teus magos encantos — retrato d’amor! —

Se eu fôra fadado dos magos accentos
Do só Lamartine, qu’em doce fragôr
A quéda de um Anjo sublime e brilhante
Nos cantos qu’enleva cantou com primôr;

Se junto a Vaucluse eu tivera o laúde
Que o mundo extasiou em seus cantos d’amor —
Se o estylo tivera na bella Clorinda —
Do Bardo qu’inspira, — do divo cantôr;

Se eu fôra do Tejo, e do Lima e Mondego
O Cysne sem par de tão alto clamôr —
Com voz emanada do côro dos Anjos
Cantára inspirado a tua alma e candôr.

Mas eu não so’Homero, nem Cysne da França,
Nem Tasso, ou Camões — esses Bardos d’amor!
Sou Vate sem estro, nem lyra, nem musa,
Sou triste do mundo mesquinho cantôr!