DO MEU AMIGO J. A. DA SILVA SOBRAL
Amigo........................
Pedes um canto na lyra,
A quem apenas lhe tira
Sons de viola chuleira?
Insistes d’essa maneira?
Não sabes que, por desgraça,
Por mais esforços que faça
Por ser vate é sempre em vão?
Não vês que mente o rifão:
Quem porfia mata caça?
Se tu queres, meu amigo,
No teu alb”um pensamento
Ornado de phrases finas,
Dictadas pelo talento;
Não contes comigo, Que sou pobretão: Em cousas mimosas Sou mesmo um ratão.
Não fallo das flores, Dos prados não fallo, Nem tracto dos sinos Porque teem badalo;
Da rola que geme, A’ borda do ninho, Do tenue regato Que corre mansinho;
Nem das travessuras Do terno Cupido, Que faz do beato Janota garrido.
Mas se queres que alinhave Palavras desconchavadas, Desculpa, com paciencia, Sandices que vão rithmadas.
Desprenda-se a veia, Comece a festança, Mordendo, cortando — Com toda chibança.
Ateie-se a Musa, Na magra cachola, Com phrases flammantes De chôcho pachola
E qual estudante, Campando de sabio, Que empunha a luneta, Que é seu astrolabio:
Eu pego na penna,
Escrevo o que sinto;
Seguindo a doutrina
Do grande Filinto.
Que estou a dizer?!
Bradar contra o vicio!
Cortar nos costumes!
Luiz, outro officio.
Não luctes com isso,
Trabalhas em vão;
E podes tocar
N’algum paspalhâo.
Vai lá para a tenda
Pegar na sovela,
Coser teus sapatos
Com linha amarella.
Mordendo na sola,
Empunha o martello
Não queiras, com brancos,
Metter-te a tarelo.
Que o branco é mordaz,
Tem sangue azulado:
Se boles com elle
Estás embirado.
Não borres um livro,
Tão bello e tão fino;
Não sejas pateta,
Sandeu e mofino.
Sciencias e lettras
Não são para ti
Pretinho da Costa
Não é gente aqui.
....................
Ouvindo o conselho
Da minha razão,
Callei o impulso
Do meu coração.
Se o muito que sinto
Não posso dizer,
Do pouco que sei
Não quero escrever.
Não quero que digam
Que fui atrevido;
E que na sciencia
Sou intromettido.
Desculpa, meu caro amigo,
Eu nada te posso dar;
Na terra que rege o branco,
Nos privam té de pensar!...
Ao peso do captiveiro
Perdemos razão e tino,
Soffrendo barbaridades,
Em nome do Ser Divino!!
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E quando lá no horisonte
Despontar a Liberdade;
Rompendo as ferreas algemas
E proclamando a igualdade;
Do chôcho bestunto
Cabeça farei;
Mimosas cantigas
Então te darei. —