Seguro assento na coluna firme (variante A)

Seguro assento na coluna firme
   Dos versos em que fico.
O criador interno movimento
   Por quem fui autor deles
Passa, e eu sobrevivo, já não quem
   Escreveu o que fez.
Chegada a hora, passarei também
   E os versos, que não sentem
Serão a única restança posta
   Nos capitéis do tempo.
 
A obra imortal excede o autor da obra;
   E é menos dono dela
Quem a fez do que o tempo em que perdura.
   Morremos a obra viva.
Assim os deuses esta nossa regem
   Mortal e imortal vida;
Assim o Fado faz que eles a rejam.
   Mas se assim é, é assim.
Aquele agudo interno movimento,
   Por quem fui autor deles
Primeiro passa, e eu, outro já do que era,
   Póstumo substituo-me.
Chegada a hora, também serei menos
   Que os versos permanentes.
E papel, ou papiro escrito e morto
   Tem mais vida que a mente.




 
Na noite a sombra é mais igual à noite
   Que o corpo que alumia.
 
29-1-1921