Seguro assento na coluna firme
Dos versos em que fico.
Aquele agudo interno movimento,
Por quem fui autor deles
Passa, e eu, outro já que o autor deles,
Póstumo substituo-me.
Chegada a hora, também serei menos
Que os versos permanentes.
E papel, ou papiro escrito e morto
Tem mais vida que a mente.
A obra imortal excede o autor da obra;
E é menos dono dela
Quem a fez do que o tempo em que perdura.
Imortais nos morremos.
Durar, sentir, só com os altos deuses unem.
Nós não somos inteiros.
Assim os deuses esta nossa regem
Mortal e imortal vida;
Assim o Fado faz que eles a rejam.
Mas se assim é, é assim.
29-1-1921