Mote
Soberano Rei da Glória,
que nesse doce sustento
sendo todo entendimento
quisestes ficar memória.
1Numa cruz vos exaltastes,
meu Deus, para padecer,
e nas ânsias de morrer
ao Eterno Pai clamastes:
sangue com água brotastes
do lado para memória,
e como consta da História,
quisestes morrer constante
por serdes tão fino amante,
Soberano Rei da Glória.
2Se na glória, em que reinais,
amante vos concedeis
bem mostrais, no que fazeis,
que extremosamente amais:
mas se em pão vos disfarçais,
dando-vos por alimento,
pergunta o entendimento,
onde assistis com mais luz?
mas direis, doce Jesus
Que nesse doce sustento.
3Sabendo enfim, que morríeis,
amante vos entregastes,
e no Horto, quando orastes
ânsias de morte sentíeis:
já, divino Amor, sabíeis,
da vossa morte o tormento,
e já desde o nascimento
todo o saber comprendestes,
porque, Senhor, já nascestes
Sendo todo entendimento.
4Vivas lembranças deixastes
da vossa morte, Senhor,
e para maior amor
mesmo em lembrança ficastes:
numa ceia apresentastes
vosso corpo em tanta glória,
que para contar a história
da vossa morte, e tormento,
no divino Sacramento
Quisestes ficar memória.