Suspiros poéticos e saudades (1865)/As Saudades/A Suissa
Tal como o caçador afadigado,
Depois de em vão correr ingratos montes,
Se alfim vê belo pássaro que pousa
Sobre um tronco do bosque,
Alegre e duvidoso a arma prepara;
E quando cuida já que é presa sua,
Manso o vê que se escapa, e que desliza
Nos leves ares co'as talhantes plumas,
Triste, desesperado à casa volta:
Ou como terno amante, que de longe
O bem-amado avista, passeando
No jardim de seus pais; contente investe,
Já em doces idéias engolfado;
E quando perto chega,
E cuida ir desfrutar gratos momentos,
Ela modesta e temerosa, os olhos
Brandamente volvendo, se retira,
E o malfadado deixa
Entregue à dor, carpindo-se saudoso;
Assim eu, oh belíssima Suíça,
Vi teus montes, teus bosques de pinheiros,
Teus campos férteis co'o suor dos homens;
Vi teu lago tranqüilo, onde se espelha
De cima desse trono de alabastro, [1]
O sol, mal que amanhece faiscante.
Assim jovem guerreiro de ouro armado,
No polido pavês atento se olha,
E contempla seu garbo, antes que saia
A discorrer os campos, coruscante.
Vi a tua cidade de Genebra,
Tão linda como o lírio junto d'água,
Tão graciosa como pura virgem,
Que a roca empunha, e que meneia o fuso.
Vi-te, e meu coração portas abria
Ao prazer fugitivo,
Que mais ligeiro corre que o teu Ródano.
Alma alegria a mente me orvalhava,
Tão seca de pesares;
E a saudade da Pátria que me punge,
Como que adormecida, menos dura,
A farpa descansava.
Esquecido de mim, do meu destino,
Começava a gozar-te; — e já me foges!
Mas se tu de meus olhos disapareces,
Desenhada na mente a imagem tua,
Jamais consentirei que se esvaeça.
Oh Suíça, oh Genebra, oh país livre!
Culta Cítia da Europa, solo honrado
Pelos Euler, Rousseau, Haller, e Géssner,
Recebe inda este adeus de um estrangeiro;
E praza ao céu que o último não seja,
Que a ti volte, e te veja uma, e mais vezes.
Genebra, 11 de outubro de 1834
Notas do autor
editar- ↑ O Monte Branco.