Uma das cousas que sustenta e abasta muito os moradores desta terra do Brasil, é a muita caça que há nestes matos de muitos gêneros e de diversas maneiras, a qual os mesmos índios da terra matam assim com frechas como por indústria de seus laços e fojos, onde costumam tomar a maior parte dela.
Há muitos veados e muita soma de porcos-monteses de muitas castas. Uns pequenos há na terra que têm as cerdas mui grossas, ásperas e crespas; estes têm o umbigo nas costas, matam-se muitos deles, e doutros grandes que não são desta qualidade. Há muitas antas que quase são tamanhas como vacas e pastam ervas como outro gado qualquer; sua carne tem o sabor como da vaca: a pele deste animal é muito grossa e rígida. Há também coelhos, mas têm as orelhas doutra maneira mais pequenas e redondas. Há outros animais maiores que lebres que se chamam pacas, também têm carne muito saborosa. Uns bichos há nesta terra que também se comem e se têm pela melhor caça que há no mato.
Chamam-lhes tatus, são tamanhos como coelhos e têm um casco à maneira da lagosta como de cágado, mas é repartido em muitas juntas como lâminas; parecem totalmente um cavalo armado, têm um rabo do mesmo casco comprido, o focinho é como de leitão, e não botam mais fora do casco que a cabeça, têm as pernas baixas e criam-se em covas, a carne deles tem o sabor quase como de galinha. Esta caça é muito estimada na terra. Há também muitas galinhas de mato que os índios matam com frechas, e outras muitas aves mui gordas e saborosas melhores que perdizes. Desta e de outra muita caça há no Brasil muita abundância.