No jardim do Recreio, ainda úmido, com poças d'água rebrilhando, a banda dos bombeiros estrondava requebrados tangos. Frias lufadas balançavam as lanternas, enfunavam as bandeiras, retorciam as flâmulas que faziam uma aléia triunfal à entrada e circulavam a pátio, subindo às negras folhagens das árvores raquíticas como estranhos frutos d'oiro e farrapos espadanando, alongando-se no ar, coleando, tufando.
A multidão, refluindo, em levas densas, do recinto iluminado e quente, fervilhava galrando. O mulherio alegre, em esgargalada e provocadora ostentação de carnes, saracoteava, abaixo e acima, às gargalhadas estridentes, roçando pelos rapazes com afetada lascívia.
Explodiam garrafas, tiniam copos, os caixeiros acudiam com pressa estonteada, aos berros, às rijas bengaladas que estrondavam nas mesas, aos tinidos das garrafas, às palmas estraladas com que os chamavam de todos os lados. E a murmúrio arrastado e incessante dos passos dava a impressão dum grande vento a vergar frondes, a torvelinhar folhagens.
Eugénie, conhecedora do seu "mundo", atraíra à sua festa, como engodo, todo o parasitismo galante. Fora, à gandaia, circulava a miuçalha, a fina flor impunha-se nos camarotes fazendo, em lento passeio, a volta da varanda ou em palestra junto à balaustrada.
O botequim transbordava e por toda a parte era um sussurro de festa, uma alegria estróina, risadas, gritinhos ou, modestamente, em algum recanto mais calmo, em penumbra, um casal em colóquio, sorvendo licores - ela a fazer-se ingênua, tímida, d'olhos baixos; ele todo inclinado, meigo, segredando com doçura.
Quando Paulo e Aurélio chegaram, a orquestra atacava, com fragor, uma sinfonia e o jardim esvaziava-se, todos corriam para o recinto ou iam tomar lugar à volta da balaustrada que circula a platéia, com curiosidade de ouvir a Eugénie, que devia abrir a segunda parte. Os floristas levantavam as varas apinhadas de ramos, oferecendo-os; de longe em longe, à mesa de indiferentes, rolhas espocavam ou era um cão, tosado á feição leonina, que se punha a ganir, de rojo pelo chão, aos rebolos.
Os dois rapazes deram volta, olhando friamente. Aurélio notou o grande número de cocottes:
— Como está isto! Nem uma família... Enoja! Fez um momo e cuspiu.
Paulo, sem responder, varava a multidão, levando, de vez em vez, a mão ao peito para apalpar, sentir o dinheiro no bolso interior do casaco abotoado. Aurélio queixou-se do frio. "Estava picante..." e propôs uma dose de whisky e Seltz, ali fora, longe daquele tumulto sórdido que tresandava. Mas o pano ia subir.
Fez-se um movimento de atenção; as curiosos apertavam-se, oprimiam-se, espichavam-se, d'olhos alongados, à espera da beneficiada. Subitamente a pano enrugou-se, subiu. Houve uma explosão de palmas, voaram ramos e flores soltas ao palco e, sorrindo, com os dedos apinhados em beijos, viva, duma graça desembaraçada de efebo, muito escorreita num costume de jóquei, Eugénie desfazia-se em galanteios, comovida, atendendo a toda a sala, avançando, recuando, o busto curvado, pisando ligeiramente, com as botas muito lustrosas, o boné junto ao seio, a cabeleira loura toda arrufada em cachos.
O regente ergueu-se no estrado e ofereceu-lhe uma corbeille cheia de fitas esvoaçantes, com um casal de inquietos pombos brancos batendo as asas entre rosas. De novo as palmas estrondaram, e das torrinhas, num delírio, aos berros, o nome da cocotte era aclamado.
De repente, dum lado e doutro, em palpitante revoada, papéis esvoaçaram. Braços levantavam-se, esticavam-se colhendo-os no ar, amarfanhando-os, disputando-os; alguns ficavam em pedaços, mas continuamente, em torvelinho, vinham outros baixando a granel, e no recinto frufrulhava alegremente aquele perene rumor de vôos. Aurélio conseguiu apanhar um dos papéis e, lançando os olhos ao texto, arrevessou:
— Súcia! versos a uma biraia como esta... e assinados, Quem é o animal? Conheces?
— Não.
— É por infâmias tais que a Poesia tem baixado tanto. Besta!
E, furiosamente, rasgou a papelucho. Eugénie começara a cantar, numa vozinha infantil, com muitos rr e sorrisos.
— Vamos ao nosso whisky?
Paulo não respondeu - estava lívido, imóvel, d'olhos cravados num camarote, insensível a tudo, vivendo apenas para aquela visão.
Aurélio seguiu-lhe o olhar e murmurou, com enlevo:
— Bela mulher! Quem é?
O outro não respondeu, estatelado, como de pedra. De repente, recuando sem atender aos protestos dos que lhe ficavam em volta, afastou-se. Aurélio estranhava-o: "Que tens?" Ele encolheu os ombros, sacudiu o braço, nervoso, e distanciou-se da companheiro, mas hesitando, deteve-se, ficou a pensar, d'olhos em terra e, numa resolução, retrocedeu. O poeta seguia-o com o olhar, intrigado.
— Olha, Aurélio, preciso ficar só, deixa-me - é um caso. Se queres alguma coisa...
— Não, filho. Mas que diabo tens? Que foi isso? É com a rapariga?
Depois dum instante, forcejando um sorriso, Paulo afirmou: que era. Aurélio, maravilhado, riu daquela ingenuidade.
— Pois que... com dinheiro no bolso? Ainda estás muito peludo, homem. Aquilo é só abordar. Se queres, apresento-te.
Paulo fitou-o com um grande espanto nos olhos que faiscavam:
— Conheces?
— Não, mas é o mesmo. Isso a gente chega, fala e está pronto. É como um tílburi que se ajusta, que diabo...! Pareces criança. Queres?
— Não. Até amanhã.
Vendo-o decidido a deixá-lo, Aurélio reteve-lhe a mão e sussurrou:
— Tens aí uns miúdos?
— Tenho.
— Pouca coisa. Aquela infame batota deixou-me a tinir e estou com um apetite de canja que não te digo nada.
Paula passou-lhe uma nota.
— Obrigado. Então até amanhã e bonne chance!
Romperam aplausos estrondosos e a poeta, esticando-se nas pontas das pés, pôde ainda ver Eugénie, toda inclinada e risonha, a atirar beijos, perdendo-se, aos recuanços, por trás do pano que descia.
Paulo afastou-se caminhando para a larga escada dos camarotes e, já com o pé no primeiro degrau, hesitou pensativo. Estrugiram novas palmas recebendo um equilibrista famoso. "Que é ela, não há dúvida..." foi, escada acima, degrau a degrau, receoso, com o coração oprimido, imaginando escândalos: um ataque, uma desfeita ruidosa, uma gargalhada cínica. E a outra? Quem seria?
Uma rapariguita loura e fina, debruçada à balaustrada, cantarolava, alheia às palavras amuadas de um bonifrate de chapéu branco e polainas. Paulo passou pelo "arrufo" vexado, pisando de leve e, à medida que se aproximava do camarote, mais lhe cresciam os receios. Sentia as pernas frouxas, trêmulas, a boca seca e revoltava-se contra aquela covardia, reagindo, avançando sorrateiramente, a relancear as olhos pelos camarotes, vendo, pelas frestas, bustos graciosos, eretos, plumas petulantes, brilhos de jóias. Chegando ao camarote alvejado, dando com a porta largamente aberta, esteve para voltar.
Correu por todo o teatro o murmúrio de uma emoção malcontida, palmas isoladas vibraram, mas foram instantaneamente abafadas por psius! enérgicos e impôs-se súbito silêncio. Ele adiantou-se e, parando, ficou pregado ao soalho, a olhar, comovido e medroso.
As duas mulheres, entretidas, não davam por ele. Uma gorda, flácida, com as carnes moles esparrimadas e a espocarem, os cabelos ralos, grisalhos, dando-lhe um tom cinzento à nuca, era uma sombra que fazia realçar, com mais esplendor, a graça da companheira, delicada e esbelta, de ombros largos, colo farto, cinta delgada, braços roliços, pele alambreada e fina.
Os cabelos, muito negros, reluziam à claridade sob as gazes e as flores do chapéu que lhe tombava sobre os olhos, como um alparluz. e o pescoço, sem uma ruga, dum torneado irrepreensível, subia direito, altivo, da gola de veludo branco.
Era ela, Violante, mais desenvolta, mais forte, em pleno viço, sem a suavidade da graça virginal, mas com o encanto das linhas acentuadas da mulher que desabrochou para o amor.
Tinha-a ali ante os olhos, a dois passos; podia falar-lhe, ouvi-la, conhecer todos os pormenores daquele drama que trazia em pena a pobre velha, àquela hora, talvez, ajoelhada, debulhada em lágrimas a pedir por ela aos santos.
Bravos frenéticos atroaram a sala. Paulo continha o hálito, temendo denunciar a sua presença e ansiava, ao mesmo tempo, por um lance do acaso, que o descobrisse à irmã.
Ela moveu-se lentamente, inclinou-se para a companheira, com o leque à boca, risonha, segredando uma confidência. O busto tremeu-lhe de leve sacudido por um risinho, a outra reboliuse, a rir grosso. Ele hesitava sufocado, d'olhos fitos, quando Violante, como fascinada, voltou a rosto e descobriu-o.
Empalideceu, os olhos abriram-se-lhe desmedidamente, a boca ficou em hiato de espanto e, medrosa, achegou-se à companheira numa necessidade de socorro, compondo o chapéu, alisando o vestido, incerta e trêmula. De novo, rápida, lançou um olhar à porta como para certificar-se e puxou uma tosse seca, logo abafada no lencinho,
Era ela, mais linda! Animado com aquela turbação, forte diante da inesperada covardia da irmã, Paulo adiantou-se até à porta do camarote e, em voz surda, que tremia, pediu licença. A gorda voltou-se, mirou-o d'alto, mas Violante levantou-se arrebatadamente e, antes que a companheira interviesse, rompeu numa exclamação de surpresa feliz:
— Oh! Paulo!... - e, afastando, de repelão, uma cadeira, saiu à varanda.
O estudante recuou até á balaustrada do fundo, carrancudo. Os dois irmãos encararam-se em silêncio, numa comoção que os enleava e foi ela quem primeiro falou, precipitando as palavras, em voz surda e difícil, que lhe saía aos arrancos:
— Como soubeste que eu estava aqui? Quem te disse? Estás magro! Que é isso?
Mirava-o com um sorriso forçado. Ele conservava-se de cabeça baixa, verrumando a botina com a ponteira da guarda-chuva.
— Tens estado doente? Fala!
Um risinho alegre ressoou-lhe na boca vermelha e fresca.
— Olha, não te ponhas com amuos agora. Temos muito tempo para brigar, ouviste? Como vai mamãe?
Ele resmungou:
— Ainda perguntas...!? Mamãe está à morte.
— De que, meu Deus! - exclamou num doloroso espanto, juntando as mãos enluvadas.
Paulo levantou a cabeça de ímpeto e, cruzando os braços energicamente, interrogou-a em murmúrio:
— Mas tu estavas doida, Violante?
Ela baixou o olhar, encolhendo os ombros.
— Não sei. Agora está feito. Não falemos nisso.
— Ah! não falemos nisso... E nós? mamãe, eu,..? Depois duma pausa perguntou: Onde estás morando?
— Em Botafogo.
— Onde?
— Na praia.
Deu-lhe o número, descreveu-lhe a casa, entre árvores, ao fundo de um jardim.
— Desde quando?
— Há uns quinze dias.
— E antes?
— Cheguei de Buenos Aires no sábado.
— De Buenos Aires!
— Sim.
— Grande doida! E agora?
— Agora quê?
— Pretendes ficar aqui?
— Então? Onde hei de ficar?
Lançou um olhar ao camarote e, vendo a companheira voltada para a cena, chegou-se mais ao irmão.
— Nós aqui não podemos conversar. Aparece amanhã lá em casa.
— Eu?
— Então? Que tem? Olhem o inocente... - fez ela com um beicinho.
— Pensas que não tenho vergonha...?
— Vergonha de quê? Eu moro só. Vai amanhã.
— A que horas?
— Às duas.
— E mamãe?
— Mamãe... Se ela quiser ir contigo...
O bonifrate de chapéu branco encaminhava-se para o ponto em que se achavam os dois. Ela despediu-se.
— Até amanhã. Olha, o melhor é não dizeres nada a mamãe por enquanto, tem tempo.
Caminhou para a camarote, com um ruflo de sedas, mas retrocedeu, sorrindo, e segredou-lhe:
— Olha, a meu nome é Diana... não te esqueças.
— Diana!
E ela, já a entrar no camarote, afirmou de cabeça, sorrindo. Paulo contemplava-a e, quando a viu de novo sentada, repuxando o chapéu, indiferente, sorrindo para a companheira, teve um assomo de revolta e esmoeu um insulto. Por fim seguiu, e pôs-se a percorrer a varanda a lentas passadas, até que, enfarado, e com uma ponta de despeito por haver sido despedido, ele, o irmão, desceu sorumbático, sentou-se a uma das mesas, pediu cognac e ali ficou a divagar, imaginando as múltiplas aventuras daquela rapariga que, depois de errar em terras estranhas, reaparecia, mais vela e mais forte, sem mácula do vício, triunfante, gloriosa na miséria infame.
Lembrou-se do dinheiro, apalpou-o, sentiu-o em volume cheio e mole. E, sacudindo a perna, ficou a banzar, inerte, numa apatia, cortada de acessos de furor. Mas aquela temerária aventura da irmã, apenas indicada em um nome - "Buenos Aires", a viagem, a instalação, o gozo bem desfrutado na opulenta cidade, a vida entre beijos e flores, em palácios monumentais, as suas noites de amor mercenário nas braços dum e doutro, foram-lhe, a pouco e pouco, despertando um árdego desejo carnal.
E admirava aquela audácia feminina, decompunha aquela vida, seguindo mentalmente todos os passos da irmã; a bordo, na terra estrangeira, pompeando em luxo régio nas frisas deslumbrantes, rodando em carruagens de molas flácidas, tiradas por parelhas de raça, esplêndida, sedutora nas suas formas rijas, mal desabrochadas, rolando em leitos forrados a seda, à luz velada de lâmpadas coloridas, em quartos nobres de palácios.
Uma mulher percorria vagarosamente o jardim em passos sutis, sacudindo o leque. Olhou-a; os olhares encontraram-se. Era alta, robusta, loura, dum louro claro e quente que fulgurava. Esteve para chamá-la, oferecer-lhe qualquer coisa, tomar-lhe a noite. Mas a mulher passou, indolente, deixando na ar a toada suavíssima dum doce canto, uma canção do seu país, talvez.
Não se resolvia, indeciso, hesitando entre recolher-se a casa e ficar na cidade, pernoitando em companhia duma daquelas andejas que enxameavam o jardim, imiscuindo-se nos grupos, sentindo o fim da noite vazia.
Passavam rindo, chalrando, d'olhos aguçados, à caça de homens, procurando ajoujar-se a qualquer; umas, desenxabidas, desanimadas, outras trêfegas, de uma alegria canalha, empurrando-se, travando dos braços dos rapazes, fazendo voltas de dança ao estridor clangoroso das metais da banda, encostando-se às mesas, reclamando bebidas, propondo ceias, ou evitando, às rabanadas, os beliscões lúbricos da rapazio.
Paulo fugiu à multidão e seguiu, ruminando idéias extravagantes, incerto da seu destino naquela noite. Achou-se, com surpresa, parado junto à escada, a olhar para a varanda. Teve um movimento de repulsa, raspando a asfalto com a guarda-chuva. "Agora espero. Quero vê-la sair. Hei de ver quem é a sujeita."
Passou-lhe pela mente a figura da Junqueira; depois desenhou-se a do Messias, d'olhos finos, em dois talhos, as pés enormes, esparrimados. Ele falara dum compromisso no Recreio, uma pessoa que a esperava. Não, não podia ser... - Então, encolhendo as ombros com indiferença, afastou-se, em andar vagaroso, medindo os passos. "Ora!" Achando-se na aléia da entrada, em súbita resolução apressou o andar e saiu.
À porta cambistas cercaram-no, pedindo a senha. Carros reluziam estacionados na rua escura; doceiros apregoavam e, na taverna da esquina, um ror de homens cercava o balcão, bebendo em estridente algazarra.
Foi-se, rua abaixa. "Ora! que se arranje!" Deteve-se surpreendido, olhando uma aguazinha que rebrilhava entre as pedras da rua.
"Só, hein?! Sozinha pela Prata... é coragem! E nós aqui, como idiotas, perdendo tempo, amofinando-nos. Eu bem dizia. E mamãe a orar..." Serenou, porém, a um pensamento iníquo e a frase que o exprimia saiu-lhe da boca docemente, regozadamente: "Mas está bonita!..." Foi-se.
À porta da Maison Moderne sorriu descobrindo Messias e Junqueira, muito juntos, encapotados. Saudou-os e entrou.
À luz intensa da sala teve um deslumbramento, e, abancando a uma das mesas mais discretas, sacou do bolso um maço de notas, escolheu uma de cem e esperou a caixeiro. "Água de Seltz..." Recebendo o troco, separou uns miúdos para o tílburi. "Até que enfim!" exclamou pondo-se de pé e, acendendo um cigarro, caminhou vagarosamente a porta.
A noite desanuviara-se. A lua, num recorte esguio, luzia no céu ponteado de estrelas.
— Vamos ter amanhã um dia magnífico! - disse alguém tocando-lhe no ombro; voltou-se e viu Narciso todo atrapalhado com um embrulho e o capote.
— Oh!... boa noite. É verdade.
— Esteve na Recreio?
— Um instante.
— Um casão, com certeza?
— À cunha!
— Pudera!
Já à porta, perguntou risonho:
— E os versos do Aurélio... Que tais? Não foram distribuídos?
— Sim, espalharam uns versos; um soneto, creio... Mas a assinatura é doutro.
— História! São da Aurélio. Fê-los ontem, depois da jantar, a pedido do Messias. Um tipo! Bem, boa noite.
Paulo não conteve o riso, lembrando-se da revolta do poeta. Ficou um momento à porta olhando o céu. Súbito meteu-se num tílburi, que estacionava junto ao passeio e mandou tocar para a Lapa.
Uma densa multidão esgorjou da Rua do Espírito Santo espraiando-se no largo - era a gente que saía do Recreio. O cocheiro teve de suster o animal para deixar passar o povo e Paulo, olhando a turba que se espalhava, com uma pressa de fuga, via apenas um vulto que se afastava subindo da terra, ganhando o espaço em leve ascensão, como um anjo que remontasse serenamente.
Com o arranco do animal que partia foi de encontro ao fundo do tílburi. O cocheiro resmungou contra a "súcia". Ele conservou-se calado, imóvel, a rever a visão, que era ela, Violante, cujo perfume o cercava como se todo o ar estivesse impregnado. Dilatou-se-lhe o peito e um suspiro saiu-lhe, largo e vagaroso: "Mas como está bonita!" E sorriu deliciado recostando-se abandonadamente.