Ontem, véspera de Reis, encontrei na avenida o meu velho amigo doutor Honório Menelique.
Todo o Rio conhece, pelas notícias dos jornais, o Centro Cívico Sete de Setembro, mas poucos sabem que o centro é criação do esforço constante de Menelique, é a sua idéia, é o seu amor.
Os maldosos poderão julgar levianamente que se trata de uma sociedade de festejos e bajulação a pessoas poderosas e influentes. Julgarão mal. Menelique crê na instrução, quer propagá-la, deseja transformar os seus cursos que o centro mantém em aulas profissionais, onde as crianças pobres e sem arrimo se eduquem, aprendam um ofício, de forma a poderem levar o fardo da vida com mais facilidade. Para realizar o seu ideal é preciso fazer o centro conhecido, preocupando a cidade; e, já que não temos milionários generosos que auxiliem os nossos Brooks Washingtons, ele emprega processos adequados.
Conhecendo o nosso meio, Menelique age de acordo com ele, procede de acordo com os seus gostos e vai mansamente realizando os seus projetos.
É um esforçado e abnegado que trocou as comodidades de primeiro escriturário da alfândega, pelas agruras de diretor de uma instituição, frequentada por mais de trezentas crianças, sem receber dos poderes públicos a menor subvenção pecuniária.
Ele me falou largamente dos seus projetos futuros, da criação de uma sucursal dos cursos do centro, fora da cidade, em que pudesse criar oficinas amplas, iluminadas, higiênicas, em que os seus discípulos pudessem adestrar-se nos vários misteres e ofícios.
Lembramos que se podia estender mais o seu já vasto plano, criando a aprendizagem agrícola, encaminhando atividades para a agricultura, inculcando nos espíritos o amor pela terra, de onde se pode tirar meios de vida com auxílio de processos racionais e aperfeiçoados.
Admirei Menelique, a sua constância, a sua tenacidade, o seu espirit de suit,qualidades de caráter tão diferentes das que estamos habituados a encontrar nos nossos homens e que eu não encontro em mim mesmo.
Menelique, é um esforçado, não desanima e vai vencendo os obstáculos opostos à realização dos seus ideais com habilidade de quem penetrou profundamente no nosso meio social. É um exemplo a imitar.
Correio da Noite, Rio, 6-1-1915.