Um mortal sem valia, um desgraçado

Um mortal sem valia, um desgraçado,
Que em pobre leito há meses geme aflito,
Que traz na própria face o mal escrito,
Até dos mesmos seus abandonados,

De agudíssimas dores volteado.
Aos céus mandando inconsável grito,
Que desordem, que crime, que delito
Cometer poderia, ou que atentado?

Juízo dos mortais, quanto te iludes!
A menor sombra tuas vozes borra,
Tu confundes os vícios c’o virtudes!

E sentirei em fúnebre masmorra
De parca desumana os golpes rudes,
Sem ter piedosa mão que me socorra?

Poema relatando o seu segundo encarceramento na Cadeia do Limoeiro.