(Theodore de Bamville)
O pequeno visconde de Salar e Coralia Bredo reproduzem exatamente aquele quadro célebre em que, de pé, e sonhador, o re Felipe II, de Espanha, em traje de corte e ornado com o seu chapéu de plumas, contempla a amante nua, deitada sobre o seu leito de repouso. Apenas, como os hábitos evoluíram desde esse tempo, Corália se cobre de um levíssimo véu transparente, e o pequeno visconde, envenenado de japoneseria e de impressionismo, enverga um costume de passeio inteiramente violeta, o qual, desde o chapéu e a gravata de seda até as meias e os sapatos, percorre toda a gama simbólica do roxo e canta a sua música silenciosa com o mais perfeito dandismo.
Embora excêntrico, e singular, Anatolio de Salar é encantadoramente inocente e adora Coralia com um sentimentalismo tomado às escolas abolidas.
Admira ele, comovido e em silêncio, as belas formas expostas aos seus olhos, quando, de repente, solta um grande suspiro.
— Querida, — diz, à sua amiga, — eu queria, no teu pescoço, na tua fronte, nos teus braços divinais, descobrir, para beijar, por menor que ele fosse, um lugar que ninguém tivesse beijado ou tocado antes de mim!
Admira ele, comovido e em silêncio, as belas formas expostas aos seus olhos, quando, de repente, solta um grande suspiro.
— Querida, diz, à sua amiga, — eu queria, no teu pescoço, na tua fronte, nos teus braços divinais, descobrir, para beijar, por menor que le fosse, um lugar que ninguém tivesse beijado antes de mim!
A cortesã levanta-se, espantada com aquela pretensão. Como, porém, fora estudante do "Quartier Latin", e como os problemas científicos não lhe desagradavam, ele se decide a admitir a hipótese fabulosa, e responde, tranqüilamente, com uma filosofia doce.
— Afinal de contas, — diz — isso pode nuito bem ser, e eu não direi que não.
E com um sorriso triste, misto de incredulidade e de fé:
— Tudo existe na Natureza...