Vão-se as horas, cresce o dia

Vão-se as horas, cresce o dia,
meu tormento não se acaba;
a noite chega a meus olhos,
mas o alívio sempre tarda.
Meu coração já de aflito
não sofre tanta tardança:
a cada instante suspiro,
porque o teu rigor me mata.
Meus sentidos elevados
já não dão ascenso a nada,
tu me negas tua vista,
eu sem ti não sei, que faça.
Em um pranto todo o dia
não sossega, nem descansa
este triste, minha vida,
este pobre, minha mana.
As meninas dos meus olhos
já não vivem de esperança,
porquanto o teu coração
não se move, nem se abranda.
Olha tu, que crueldade
por ti padece minha alma,
maltratar, a quem te quer,
não querer, a quem te ama.
Baste já, que mais não posso,
não sejas, meu bem, ingrata,
que por ti vivo morrendo,
tu por mim não fazes nada.
Ai meu bem, quem tal dissera!
mas não quero dizer nada,
tu, que me quiseste muito,
me perdoa por tua alma.