Vai cagar o mestiço e não vai só;
Convida a algum, que esteja no Gará,
E com as longas calças na mão já
Pede ao cafre canudo e tambió:
Destapa o banco, atira o seu fuscó,
Depois que ao liso cu assento dá,
Diz ao outro: «Oh amigo, como está
A Rita? O que é feito da Nhonhó?
«Vieste do Palmar? Foste a Pangin?
Não me darás noticias da Russu,
Que desde o outro dia inda a não vi?»
Assim prosegue, e farto já de gu,
O branco, e respeitavel canarim
Deita fóra o cachimbo, e lava o cu.
Notas
editarDiz-se que este soneto fôra escripto em Gôa e dirigido a D. Francisco de Almeida, fidalgo de raça mestiça, cuja indole e costumes o poeta quiz assim escarnecer. Derramou por todo elle vocabulos da lingua canarina, cuja explicação debalde se procurará nos díccionarios. Pessoa que suppomos bem informada, nos assegura que tambió quer dizer tabaco: — fuscó, peido; gu, trampa, etc. Valha a verdade!
[Nota de Inocêncio Francisco da Silva.]
- ↑ MATTOSO, Glauco. Bocage, o desboccado; Bocage, o desbancado. São Paulo: 2002. Disponível em <http://www.elsonfroes.com.br/bocage.htm. Acesso em: 28 maio 2014.