O dr. Raul Leite, proprietário de uma das maiores casas de laticínios do Rio de Janeiro, nasceu predestinado. O seu próprio nome já o indicava para essa indústria, augurando-lhe o mais formoso dos futuros.
Não se resumia, porém, no nome, essa predestinação. Quando pirralho, o simpático industrial não falava senão em queijo, em creme, em coalhada, fabricando vaquinhas de madeira, enquanto os outros meninos, na sua idade, faziam cavalos de papelão.
Não foram, porém, as vaquinhas de pau que denunciaram à família aquela vocação irremediável. O caso foi diferente, e é contado, assim pelo dr. Estelita Lins, médico da Cruz Vermelha:
— Quando o Raul tinha sete anos, ainda se alimentava de leite humano, que lhe era ministrado por uma portuguesa, rapariga avantajada, grande como a Itália Fausto. Certo dia, tinha ele acabado de mamar, e como estivesse com preguiça, ficou no colo da ama, até que adormeceu. Ao acordar, quis mamar de novo, e não pôde. O leite não saía. A rapariga gritava desesperadamente, com umas dores que não sabia explicar. Chamado o médico, que era o dr. Érico Coelho, este mandou que afastassem o menino, até que a ama se restabelecesse.
— E que é que tinha a rapariga? — indagou alguém da roda.
E o dr. Estelita, em segredo:
— O Raul havia brincado tanto com a "caixa" de leite da rapariga, sacudindo-a, que este se havia solidificado dentro, transformado em manteiga!...