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Uma iguaria ou um manjar nacional como o cocido espanhol, o polenta italiana, a mamaliga rumaica, a porridge escossesa, o stchi ou o bortsch da Rússia, a sexa da Suécia, o knãckebröd da Finlândia, o yougourt da Bulgária, a miliasse dos departamentos franceses do Oeste, a gaude da Borgonha e do Franco-Condado, o chuppattis da India Septentrional, o izamba thibetano, o tofou japonês, o couscoussou árabe da África do septentrião, a tortilla mexicana, o churrasco platino, o puchero da Argentina, o jupará e o reviro das beiras do Paraná, entre o Brasil e o Paraguay, o vatapá e o carurú da nossa Bahia, são como espécies de signaes nacionaes que despertam em nossos espíritos excellentes representações de um certo numero de traços pertinentes a estas conectividades.

Valendo-me da suggestão do insigne mestre francêz, tantas vezes citado, eu vos perguntarei: Quantos Estados do nosso Brasil não poderiam ostentar como symbolo em seus estandartes particulares um prato ou um producto regional?

O assumpto é realmente de alto interesse. Guerra Junqueiro escreveu estes versos robustos:

"Bom estômago e ventre livre — um patrimônio.
A vida é boa ou má, faz rir ou faz chorar,
Conforme a digestão e conforme o jantar.
Toda philosophia, pode crel-o, Doutor,
Ou tristonha, ou risonha, ou alegre, ou sombria
Deriva em nós, tão orgulhosas creaturas,
De gastro-intestinaes combinações obscuras".

Avivando a vossa attenção no apreciar maduramente o invulgar da preciosa monographia do Prof. Manoel Querino, não me furto ao prazer de vos referir as palavras de Jean Brunhes em sua aula