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inaugural já referida, instando, persistente na monta de taes problemas: "no curso de meus estudos em torno da península balkanica e a respeito da geographia humana dos paizes da mesma península, liguei importancia excepcional a tudo o que constitue a alimentação costumeira, os alimentos tradicionaes e o genero de vida. Passeando um dia pelas ruas de Belgrado (capital do novo reino Serbo-Croata-Sloveno), percebi na frente de uma modestíssima bodega uma mesa onde se achavam um Samovar e um Kanta; o Samovar é o utensílio de cobre que serve para fazer chá; o Kanta é um vaso cravado de cobre no qual se fabrica e vende a boza, que é uma bebida de farinha de milho fermentada. Ora, o Somovar e o chá exprimem um costume russo, emquanto que a boza é de origem turca. Nesse paiz slavo, que por tanto tempo esteve sob o domínio dos turcos, as influencias da Rússia e da Turquia estão flagrantemente figuradas pela juxtaposição inesperada do Samovar e do Kanta.

Ponderae, meus caros confrades, na acuidade da observação que restimbra destes períodos de ouro.

Ahi ficam estas palavras á margem da criteriosa monographia offerecida hoje ao Instituto, em palestra saborida. Não pretendi criticar-lhe a contextura, até porque só a conhecia no rápido summario de conversa intima, numa dessas tardes amigas em que aqui nos encontramos, nós, os do grupo mantenedor da actuação diligente e viva do Instituto.

O meu intuito foi apenas despertar os respeitos dos estudiosos desta tenda para a importância actualissima que, nos meios cultos do velho e novo mundos, têm os estudos a cuja cathegoria pertence o trabalho do Prof. Manoel Querino. Elle é, no Brasil e ao meu