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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

buir a saudação que me acaba de ser feita, começou ela e notou que realmente se erguia diversas polegadas acima do chão, tendo de agarrar-se aos rebordos da mesa para não ir bater com a testa no fôrro.

— Cuidado! exclamou aflita a Rainha Branca, segurando Alice com ambas as mãos. Vai acontecer qualquer coisa!

Aconteceram coisas espantosas! As velas cresceram até ao teto, lembrando feixes de varas com fogos de artifício nas pontas. As garrafas tomaram cada uma dois pratos que ajeitaram no gargalo como asas e, fazendo dos garfos pernas, dispararam a correr e voar em tôdas as direções. “Perfeitas aves!”, pensou consigo Alice, que ainda conseguia pensar naquela terrível confusão.

Nesse momento ouviu um “mé” ao lado e, voltando-se para ver o que sucedera a qualquer das damas, deu com a perna de carneiro sentada no lugar da Rainha Branca. — Estou aqui! gritou uma voz de dentro da terrina de sopa. Alice voltou-se para ver quem falava: a Rainha Negra sorria com a cara inteira, já mergulhada até ao pescoço na sopa.

Não havia um momento a perder. Quase todos os convivas estavam dentro dos pratos ou sopeiras, e a colher de arroz vinha aos pulos em direção da menina, fazendo caretas e intimando-a a sair do caminho.

— Isto não pode continuar! exclamou Alice, levantando-se e agarrando a toalha com ambas as mãos. Vai tudo raso! berrou, e deu um grande puxão na toalha. Foi um terremoto! Pratos, talheres, assados, doces, velas, vasos de flôres, tudo rolou mesa abaixo formando um monte de cacos no chão.