A gora quero tratar,
Segundo tenho patente,
A vida de lavrador
No passado e no presente.

Bem queria ter ciência,
Dizer por linhas direitas,
Para agora explicar
Uma idéia bem perfeita.

Cuidados tenho da noite,
De madrugada levanto,
De manhã vou para a roça
A correr todos os cantos.

Domingos e dias santos
Todos vão espairecer,
Eu me acho tão moído,
Que não me posso mexer.

Estando desta sorte
Não é possível calçar,
Os pés inchados de espinhos,
E de todo o dia andar.

Feliz de quem não tem
Esta vida gloriosa,
Não vive tão fatigado,
Como eu me acho agora.

Grande tristeza padece
Todo aquele lavrador,
Quando perde o legume todo
Porque o inverno escasseou.

He possível aturar
Até a idade de cinquenta,
Quando se chega aos quarenta,
Já parece ter oitenta.

Lavradores briosos
Consideram no futuro,
Não tomam dinheiro sem ver
Os seus legumes seguros.

Muitos não têm recursos,
Não sabem o que hão de fazer,
Não temem a percentage,
Querem achar quem dê.

Não queira ser lavrador
Quem tiver outra profissão,
É a vida mais amarga
Deus deixou aos filhos de Adão.

Poi quando se colhe
Os legumes de um ano,
Ainda se não acaba,
Nova roça começando.

Quase sempre os lavradores
De cana, café, cacau,
Têm feitores de campo
Para não passar tão mal.

Razão eles têm
Para ter contentamento,
Quem trabalha no campo
É quem padece o tormento.

Souberam as câmaras criar
Ministros pra proteger,
Nesta terra não tem um banco
Que a ela possa favorecer

Terra pobre como esta
Ninguém pode dar impulso,
Sem banco, sem proteção,
Fora de todo o recurso!

Vive sempre isolado
Metido nas espessuras
Com a memória no passado,
O futuro sem venturas.

Xoram todos a sua sorte,
Faz pena ver os lamentos,
De pedir dinheiro a rebate,
Por não acharem por centos.

Zombem, façam caçoada
Da vida do lavrador,
Considerem no futuro,
A sorte a Parca cortou.

O til por ser do fim,
Sempre dá uma esperança,
Na consolação dos afetos
Até chegar a bonança.