Nas paixões da humanidade para a riqueza, está comprehendida grande parte da nossa historia social.
A riqueza é o movel da nossa actividade, dos nossos esforços, do valioso engenho das nossas combinações. E' ella, que satisfaz prodigamente os nossos prazeres, as nossa commodidades, grande parte das exigencias do nosso espirito, e lhe amortece essa sede, que o abraza.
Na esphera social, em todos os paizes, em todos os povos; quer nas nações antigas, quer nas modernas; nas patrias civilisadas e nas menos cultas, tem tido existencia, e subsistido o desejo das riquezas, como um principio inherente á natureza humana.
E como explical-o? No homem ha uma parte indifinivel. E' a alma. Apoz ella o seu continuo anhelar, que para o contentar sufficientemente nem todo o universo lhe bastava.
E que faz o homem não podendo satisfazer os seus multiplicados desejos? Sônha, delira, extasia-se, commove-se, arrebata-se e á força de mergulhar-se no oceano do idialismo, afoga-se no seu vasto seio.
Então torna-se prosaico, e todos os seus projectos dasapparecem como uma nuvem de pó. Um só permanece arteigado e inabalavel; porque é a luz dos seus olhos, o germen da sua existencia, o alimento da sua materia animada, e o fogo ardente do seu espirito: é a riqueza.
Os que a conseguem, são apontados como felizes; os outros dizem-se desgraçados. Os primeiros vivem na abundancia, os ultimos na miseria. Entre estes dous limites, não ha harmonia possivel.
Não nos move a inteligencia, a conciliar esses dous extremos, que nuluamente a repellem. Dir-se-iam duas cargas electricas da mesma natureza.
São á similhança de dous irmãos, que se odeiam, que não buscam comprehender-se, e que desejariam collocar-se a uma distancia infinita, para evitarem todo o contacto possivel.
Mas nós, verdadeiros socialistas, desejariamos, que estes dous extremos convergissem. Queriamos até os laços d'um aproximado ― parentesco.
Uma completa paternidade seria muito; seria o progresso indefinido tão exaltado pelo genio poetico de E. Pelletan.
Os poetas, em geral, sônham muito, porque encaram por um só lado a humanidade; ordinariamente exultam as bellezas ficticias da natureza, e mal pensam nas riquezas sociaes.
Andam atraz d'um bello, que nunca encontram.
Que me responderia Camões se voltasse a este ― valle de lagrimas ―, perguntando-lhe se havia sido feliz?
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