N'um album

O canto do cysne moribundo impressiona as almas privilegiadas no sentir, como o suspirar da rôla ferida, ao repontar da sua ultima aurora.

Porque não fugir então a esse hymno extremo que nos veste a alma de lucto, e vem aguar a doce embriaguez que nos toma, quando respiramos o ar explendido d'uma natureza prodiga e rica?

Poupal-o quizera eu, meu amigo: eu que toquei na audaciosa temeridade de ir devassar os misterios do seu alto espirito, e não menos grande coração; onde, hoje, no meu derradeiro dia, já ataviada com a mortalha funeraria da desesperança, deixo cahir um gemido, que tem o valor d'uma lagrima, na face que o anjo do extreminio tocou!

Se é esta uma imagem pungente, affaste-a de si, meu amigo; e procure ainda, e sempre, esse céo tão risonho para os que esperam!...

Não póde ser esse o da condemnada!.. Mas, lá, de longe a longe, alongue a vista até o meu sepulchro, e diga com a mão na consciência: «é uma grande e sincera estima o que sobrevive alli!»

Lisboa, 5 de março...