A Esperança Vol. I/Resposta ás observações do sr. A. P.

Resposta ás observações do snr. Alberto Pimentel
 
 

Não foi v. s.a nem quem pensa da mesma sorte que me obrigou a escrever a carta que se publicou em o n.o 12 d'este jornal; eu cá tive minhas rasões para a escrever; porém aquelles que m'a inspiraram sentiram-se ao lel-a opprimidos pelo remorso e callaram-se por terem muito orgulho para darem uma satisfação. Bem sei, snr. Pimentel que os homens não teem receio que o sexo feminino lhes venha nunca a roubar a sua gloria, por que nem mesmo a Sapho lh'a pode offuscar.

Sei tambem que os homens litteratos gostam que a mulher s'instrua; mas alguns querem-n'a instruida até certo ponto; into é, que converse bem, que escreva com ortographia; porém, que não ouse dar publicidade aos seus escriptos e que se lembre que foi destinada para os misteres domesticos; mas o genio que não escolhe sexo e que ás vezes lhe trasborda na mente, faz com que ella s'esqueça por momentos da roca, para lançar mão da lyra e então esse genio sem estudos torna-a poetisa da naturesa.

A nobresa que o talento da' ganha-se pelo estudo pois se nós o não temos, não é de admirar que v.s.a tenha encontrado pouco correctas as producções do sexo feminino, quando muitas vezes as de grandes talentos masculinos teem defeitos. Se eu tivesse orgulho, ou désse algum valor ao que tenho publicado ficaria agora completamente desapontada; porém não acontecerá assim com outras senhoras que tiverem a consciencia d'escrever melhor e eu apezar de não ser competente para lhes fazer uma analyse, tenho ouvido elogiar as obras d'algumas a pessoas muito entendidas.

De V. S. muito veneradora,

Maria Adelaide Fernandes Prata.