Personagens: CAMILO e ELVIRA

CAMILO - Estamos sós. Que ventura! Querida Elvira.

ELVIRA - Meu Deus! O senhor causa-me medo. Por que me olha assim?

CAMILO - Por que te olho assim?! Pergunta à brisa por que cicia medrosa em noites estreladas no recatado turíbulo das flores; pergunta à vaga por que desfaz-se na branca areia em alvos risos de espuma; ao humilde passarinho por que exala saudosos trinos quando a aurora derrama róseos prantos de luz sobre a campina verdejante; ao desgraçado por que sorri em horas de esperança. Por que te olho assim?! E que eu bebo a vida em teus olhos negros e quisera exalar o último suspiro aspirando a teu lado o grato perfume dessas tranças de ébano.

ELVIRA - Mas o senhor nunca me falou por este modo.

CAMILO - Que querias que te dissesse se temos estado juntos apenas cinco minutos e se o único consolo que me resta é passar todas as tardes por tua casa e ver-te à janela?

ELVIRA - No que tem feito muito mal, porque a vizinhança tem hoje as vistas em cima de nós e segundo me consta já tenho sido até assunto de conversação no açougue da esquina.

CAMILO - O que devo fazer então? Queres que não passe mais por tua porta?

ELVIRA - Não digo isso... Mas o senhor bem sabe que quando as coisas chegam a um certo ponto... Por que ainda não falou com papai?

CAMILO - Mas se eu não conheço teu pai, nem nunca o vi, como hei de sem mais nem menos, sem uma apresentação sequer, entrar-lhe pela casa adentro, e pedir-lhe a tua mão?

ELVIRA - Eu já lhe contei tudo.

CAMILO - Deveras? Então teu pai me conhece?

ELVIRA - Não o conhece pessoalmente, mas creia que tem as melhores informações a seu respeito!

CAMILO - E quem lhas deu?

ELVIRA - Esta sua criada.

CAMILO - Oh! Quanto sou feliz! Dou-te minha palavra que amanhã envergarei a casaca preta, calçarei um par de luvas brancas e... (Gritam de dentro: - Vivam os Tenentes do Diabo!).

ELVIRA - O que é isto?

CAMILO - Esconda-se depressa ali.

ELVIRA - Não; vou-me embora.