— Estava de noite
Na porta da rua,
Proveitando a fresca
Da noite de lua,
Quando vi passar
Certa mulatinha,
Camisa gomada,
Cabelo entrançadinho.
Peguei meu capote,
Saí atrás dela,
No virar do beco
Encontrei com ela,
Ela foi dizendo:
"Senhor, o que quer?
Eu já não posso
Estar mais em pé,
Olhei-lhe pras orelhas,
Vi-lhe uns brincos finos,
Na réstea da lua
Estavam reluzindo.
Olhei pro pescoço.
Vi um belo colar;
Estava a mulatinha
Boa de se amar.
Olhei-lhe pros olhos,
Vi bem foi ramela;
De cada um torno
Bem dava uma vela.
Olhei-lhe pra cara,
Não lhe vi nariz;
No meio do rosto
Tinha um chafariz.
Olhei-lhe pra boca
Não vi-lhe um só dente;
Parecia o diabo
Em figura de gente.
Olhei-lhe pros peitos,
Eram de marmota;
Pareciam bem
Peitos de uma porca.
Olhei-lhe pras pernas,
Eram de vaqueta;
Comidas de lepra,
E cheias de greta.
Olhei-lhe pros pés,
Benzi-me de medo;
Tinha cem bichos
Em cada um dedo.