—Bela Pastorinha,
Que fazeis aqui?
"Pastorando o gado
Qu'eu aqui perdi.

—Tão gentil menina
Pastorando gado?
"Já nasci, senhor,
Para este fado.

—Vamos cá, menina,
Pra aquele deserto,
Qu'eu pouco me importa
Que o gado se perca.

"Sai daqui, senhor,
Não me dê tormento;
Eu não quero vê-lo
Nem por pensamento.

Olhe, meu senhor,
Cá volte, correndo,
Que o amor é fogo,
Que me vai vencendo.
Olhem para ele
Como vem galante,
Com meias de seda,
Calção de brilhante!
Si os manos vierem
Trazer a merenda?

—Eles não são bichos
Que a nós ofenda.
"E si perguntarem
Em que me ocupava?

—Numa manga dágua
Que a todos molhava.
"Bem sei que tu queres:
Que te dê um abraço;
É à sombra do mato,
Mas isto eu não faço.

—Eu me sento aqui
Não com má tenção;
Juro-te, menina,
Que sou teu irmão.
"Sai por um monte,
Qu'eu saio por outro,
A ajuntar o gado
Que é nosso todo.