(Em casa de Fernando. Terraço entre salões de baile.)
CENA I
editarMeneses, Vieira, Pinheiro e Fernando.
FERNANDO – Aqui está mais fresco!
PINHEIRO – Está delicioso!... Este terraço é encantador!...
MENESES – Realmente, quem goza deste ar puro, e desta impagável liberdade em pleno baile, vendo dançar nos salões as mais bonitas mulheres, e luzir no céu as mais brilhantes estrelas, saboreando um sorvete entre duas fumaças de Havana; pode dizer afoutamente que conquistou o paraíso terrestre!
VIEIRA – É o baile mais esplêndido deste ano. Podes ter este orgulho, Fernando!
FERNANDO – Quis mostrar a certos ricaços como se deve usar da riqueza!
VIEIRA – E conseguiste! Fizeste de tua casa um verdadeiro paraíso terrestre, como diz o Sr. Meneses. Nada falta, nem mesmo o fruto proibido.
MENESES – E a tentação da serpente, Sr. Vieira... Perdão... Sr. comendador Vieira!...
VIEIRA – Ora! Pode tratar-me como quiser. Não reparo nessas cousas.
MENESES – Nada! O seu a seu dono. Ninguém respeita mais os títulos do que eu.
PINHEIRO – Quando bem empregado.
MENESES – São sempre bem empregados, Sr. Pinheiro.
FERNANDO – Oh! nem sempre!
VIEIRA – O certo é que um homem sisudo faz hoje verdadeiro sacrifício aceitando alguma dessas honras que tem sido tão barateadas pelos governos estrangeiros.
MENESES – Como certas comendas!... Mas acredite-me, Sr. Fernando; o título ainda mal empregado é uma instituição utilíssima.
FERNANDO – Explique-nos a razão.
MENESES – O que são as condecorações senão um modo de publicidade? Um velhaco que passaria desapercebido em sua obscuridade, não pode escapar a curiosidade pública desde que o põem em relevo.
PINHEIRO – Que epigrama!
MENESES – É um paradoxo de jornalista. Sou homem da imprensa; sustento a conveniência do anúncio e a abolição do anônimo, no salão, como no jornal. E lá vem o nosso barão que estou certo pensa como eu.
VIEIRA – O barão é suspeito nesta matéria!
CENA II
editarOs mesmos, e o Barão.
BARÃO – De que se trata? Do Sr.?
PINHEIRO – Tratava-se de títulos e condecorações...
MENESES – E eu dizia que se algumas vezes são cartas de recomendação, outras não passam de cartazes de botica bem necessários para se conhecer que o frasco contém veneno.
BARÃO – Dizias uma verdade. Não sou suspeito, como inculca aqui o Sr. comendador. Quando me ofereceram o título que trago por uma bagatela que dei, quis recusar; mas não tendo nome ilustre que conservar, e não me vindo daí prejuízo, aceitei. Aceitei, e confesso que por uma razão de comodidade.
VIEIRA – Pois eu julgo que não há nada mais incomodo do que as honras. Digo-o por mim: vê-se uma pessoa cercada por mil importunações.
BARÃO – Não duvido que ao senhor isso aconteça; a mim porém dá-me menos trabalho como diretor do banco assinar milhares de vezes dous nomes, do que os cinco que me deixou meu pai por herança.
VIEIRA – Então foi barão unicamente para encurtar a assinatura?
MENESES – Admira com efeito! Quando outros fazem o possível por alongar o nome, escrevendo a margem todos os seus títulos verdadeiros ou falsos!
FERNANDO (tossindo) – Vou me recolhendo. O sereno não me faz muito bem!
BARÃO – Mas tem passado melhor depois de sua viagem.
FERNANDO – Pouco!... Também a contradança nos chama meus senhores. A conversa está interessante; mas não devemos esquecer as senhoras.
VIEIRA – É a segunda quadrilha? Danço com D. Paulina. Ainda não te fiz meus cumprimentos. Está com um toilette deslumbrante! Os mais ricos diamantes desta noite!
MENESES – O elogio tem seu peso! O Sr. Vieira é bom juiz em matéria de joias.
BARÃO (rindo) – É entendido, é! Lembras bem!
VIEIRA – Nem por isso, meus senhores. Falo simplesmente como homem de gosto!
CENA III
editarBarão e Meneses
BARÃO – Já viste Carolina?
MENESES – Ela está aqui?
BARÃO – Chegou a pouco. A filha obrigou-a... Como resistir? Lina vai fazer dezesseis anos no dia 20; está uma moça e não tem distrações.
MENESES – Viesse com seu pai; com Luís!
BARÃO – Não achas feio estar uma menina daquela idade num baile sem a companhia de sua mãe?
MENESES – Antes isso do que expor-se a uma desfeita! E Luís consentiu em semelhante imprudência!
BARÃO – Luís me parece mudado; não é o mesmo homem. Está agora de um humor detestável; sempre contrariado e aborrecido. Para isso não valia a pena vir morar na corte!
MENESES – E não desconfias do motivo dessa mudança, Araújo?
BARÃO – Não; tenho pensado, e não sei a que atribua. Percebeste alguma cousa?
MENESES – Tive apenas uma suspeita à tempos, e não quis comunicar-te, porque ela te afligiria profundamente, como me afligiu a mim. Desconfio, Araújo, que Luís já não ama Carolina.
BARÃO – Que dizes, Meneses? É possível? A mulher por quem sacrificou seu futuro e sua existência!
MENESES – Por isso mesmo; o coração deu mais do que devia, e do que podia; a razão reclamou já tarde seus direitos.
BARÃO – Mas que motivos tens para acreditar que esse amor acabou? Depois do tantos anos de casados, é natural que se tornasse mais calmo.
MENESES – Sem contudo perder a estima, que o homem deve à mulher à quem deu seu nome! Repito, porém: é simples suspeita minha; o que vi não passa de sintomas assustadoras, que entretanto talvez nada tenham de real.
BARÃO – Deus o queira. Seria uma desgraça para toda aquela família.
MENESES – Especialmente para Carolina. Vamos vê-la; ela deve sentir neste momento a necessidade de ter junto a si seus amigos; isto lhe dará coragem.
BARÃO – Está passeando agora com o Tavares.
MENESES – Receio muito que essa imprudência não tenha más consequências.
BARÃO – Não sejas tão apreensivo também. Há treze anos que Carolina casou; tem vivido constantemente na fazenda... Já devem estar esquecidos.
MENESES – Cuidas que estas cousas esquecem?... És sempre o mesmo homem, Araújo; nem a idade, nem a riqueza, destruíram a ingenuidade de teu coração. O que esquece é o martírio de Carolina arrependida e torturada pelas recordações, sua virtude de esposa e mãe, sua caridade inteligente, o heroísmo sublime de sua calma e aparente serenidade; todas essas lembranças de ontem, todos estes fatos de hoje, que continuarão amanhã e sempre. Mas o erro, esse não cria cabelos brancos nunca, e por mais velho que seja, remoça apenas lhe tocam. Tenho uma lembrança vaga de que a mulher de Fernando conheceu Carolina noutro tempo... Não estás certo?
BARÃO – Não me recorde. Fazem tantos anos!
MENESES – E esse Vieira?... Está fazendo a corte a D. Paulina; uma palavra basta, e ele a dirá...
BARÃO – Felizmente estamos aqui. Se houver alguma cousa, dou o braço a Carolina, e quero que a venham ofender junto de mim.
CENA IV
editarOs mesmos, Ribeiro, Frederico e Lina.
RIBEIRO – Sr. barão! (saúda) Estimo encontrá-lo, Sr. Meneses.
MENESES – Há muito que não tinha o prazer de vê-lo.
RIBEIRO – Onde está morando agora?
MENESES – Sempre no Catete, e sempre às suas ordens.
RIBEIRO – Desejo procurá-lo; e desde já o previno que é uma visita interesseira.
MENESES – Melhor; terei o prazer de servi-lo, Sr. Ribeiro. Com licença!
RIBEIRO – Perdão. Se o não incomodo, permita que lhe apresente meu filho.
LINA (pelo braço de Frederico) – Boa-noite, Sr. Meneses.
MENESES – Como está, Lina?
LINA – É preciso procurá-lo para ter o gosto de o ver.
MENESES – Os velhos devem passar depois dos moços. Nós formamos nos bailes, a reserva dançante.
BARÃO – Eu cá estou reformado!
LINA – Pois há de dançar hoje comigo, meu padrinho!
RIBEIRO – Frederico, ainda não conheces o Sr. Meneses, um dos nossos talentos mais brilhantes e escritor de reputação. São relações que deves cultivar; em tão boa escola aprende-se muito.
FREDERICO – Se o Sr. Meneses me quiser honrar com seus conselhos, eu me esforçarei por tornar-me digno de sua amizade.
MENESES – A minha amizade é um tanto rabugenta; pelo que não a suportam senão alguns velhos camaradas, já habituados às minhas impertinências. Isso não impede porém que faça sempre com prazer o conhecimento de uma pessoa digna de estima.
RIBEIRO – Apresento-te agora o Sr. barão de Castro! És feliz esta noite. Quem faz dous conhecimentos desta ordem, pode bem dizer que não perdeu o dia.
FREDERICO – É uma fortuna certamente, e que eu sei apreciar. Sinto que neste momento outro dever não me deixe gozar dela por mais tempo.
LINA – Mas eu não desejo que por minha causa se prive desse prazer.
FREDERICO – Oh! confesso que sou egoísta preferindo sua conversação, minha senhora; mas nenhum dos senhores me leva isto a mal.
MENESES – Decerto; as moças, sobretudo as bonitas, não costumam perdoar esses crimes contra a galanteria.
LINA – Veja lá, não me deite a perder com seus elogios.
CENA V
editarMeneses, Barão e Ribeiro.
BARÃO – Que idade tem seu filho, Sr. Ribeiro?
RIBEIRO – Vinte e um anos. Acaba de formar-se em medicina.
BARÃO – É mais velho do que... do que a outra?
MENESES – Supunha que a menina que o Sr. perdeu há tempos era seu primeiro filho.
RIBEIRO – Não senhor; quando a perdi, Frederico estava com sua mãe; trouxe-o para minha companhia e o tenho educado com desvelo. Quero que ele seja o contrário do pai. Há de conhecê-lo; é um moço sisudo e de princípios severos.
BARÃO – Notei-lhe com efeito uma gravidade rara em moços de sua idade.
RIBEIRO – É por ele Sr. Meneses que desejo procurá-lo, para de novo pedir-lhe sua proteção.
MENESES – Ora, Sr. Ribeiro!
RIBEIRO – Perdão, se tivesse um amigo como o senhor quando entrei no mundo, creio que a minha vida teria sido outra.
BARÃO – Nisso dou-lhe toda a razão; eu conheço esta fazenda. (batendo no ombro de Meneses.)
RIBEIRO – Posso contar com este obséquio?
MENESES – São cousas que não se prometem, Sr. Ribeiro; vem com o tempo e com as circunstâncias. O que lhe asseguro é minha boa vontade.
RIBEIRO – Isso basta-me; obrigado.
CENA VI
editarMeneses, Barão.
MENESES – Queres saber que ideia extravagante me passou agora pelo espírito?
BARÃO – Uma extravagância em ti é cousa bem rara para que eu tenha curiosidade de conhecê-la.
MENESES – Nem tanto... Mas vendo-os pelo braço um do outro...
BARÃO – Antes de tudo saibamos de quem falas?
MENESES – De Lina e desse filho do Ribeiro.
BARÃO – Bem; vendo-os pelo braço...
MENESES – Lembrei-me! São moços, ambos na flor da idade, ignoram o passado. Se eles vão se amar!
BARÃO – Hem!... Dous irmãos!...
MENESES – Não fales tão alto!
BARÃO – Mais essa para a pobre Carolina!
MENESES – Confesso-te que estremeci!
BARÃO – E havia de quê.
MENESES – Mas no fim de contas não passa de uma lembrança. Há tanto moço de quem Lina pode gostar!
BARÃO – Contudo é prudente afastar o rapaz. Viram-se hoje pela primeira vez; mas ninguém sabe o que virá depois. Estes bailes são uma escola de namoro.
MENESES – Aposto que te recordaste agora da Vestal.
BARÃO (rindo) – É verdade! Meu tempo! Há nada que o faça esquecer! Nem riqueza, nem consideração.
MENESES – É realmente prudente evitar que Lina se encontre com esse moço; mas não basta. Convém casá-la quanto antes, e por todas as razões. Uma indiscrição, uma palavra malévola pode lhe revelar o segredo de seu nascimento; e ela sofrerá menos se tiver um protetor e um coração leal que a ame e faça feliz. É preciso que Luís trate disto.
BARÃO – Luís? Todos nós. És celibatário e eu estou viúvo e sem filhos. A família de Luís é também nossa. Temos não só o dever, mas o direito de velar em sua felicidade. Não entendes assim?
MENESES – Sempre o entendi. Ocupemo-nos todos, dizes muito bem, com o meio de assegurar sua tranquilidade; mas não lhe deixemos perceber que ela está ameaçada!
(Pequeno intervalo em que se ouve a música e vê-se a multidão dos convidados que atravessam o terraço.)
CENA VII
editarLuís e Sofia (de braço.)
SOFIA – Voltemos ao salão; desejo sentar-me.
LUÍS – Já?
SOFIA – Estou fatigada.
LUÍS – Quantas valsas dançou?... Nenhuma!
SOFIA – Temos passeado tanto tempo! Podem reparar.
LUÍS – Não tenha esse receio. Sou um homem casado.
SOFIA – Sr. Viana!
LUÍS – Repreenda-me, D. Sofia; repila-me com indignação e desprezo. A senhora o deve. Mas não posso, não tenho forças para recalcar este amor insensato no fundo do coração.
SOFIA – Cale-se! Eu lhe peço!
LUÍS – Tenho pensado muitas vezes que é uma loucura, um amor sem esperança, uma paixão criminosa e infame, porque trai a mulher que tem direitos sobre mim, e insulta aquela à quem amo. De que serve isto? De exasperar-me ainda mais, e torturar-me de ciúmes. Neste baile, quando um homem chega-se para a senhora, lhe fala e aperta a mão, sabe o que eu penso? Aquele é livre; ela pode amá-lo! E tenho vontade de ir-me a ele e insultá-lo...
SOFIA – Não fale tão alto; estão-nos ouvindo, Sr. Viana.
LUÍS – Que grande crime cometi eu para que Deus me punisse com este amor? Minha vida agora é um martírio. Meus amigos, fujo deles com medo que me leiam no rosto meu crime. Minha mulher... creio que lhe tenho ódio.
SOFIA – Por quê, meu Deus? Ela merece ser amada!
LUÍS – Quem é a causa de minha desgraça? Se eu fosse livre, talvez a senhora me amasse.
SOFIA – Ninguém governa seu coração. Ah! se o amor só nascesse quando se deseja!
LUÍS – Quando a senhora me conheceu, ignorando ainda quem eu era, talvez me iludisse; mas pareceu-me que seu olhar não era indiferente ao que eu sentia. Diga, não é verdade?
SOFIA – O senhor tinha salvado meu pai; era preciso que fosse ingrata.
LUÍS – Não me fale de gratidão.
SOFIA – Demais o senhor me parecia triste e infeliz...
LUÍS – E não o sou mais agora?
SOFIA – Eram motivos bastantes para me interessar pelo senhor, e ter-lhe amizade.
LUÍS – E hoje só tem motivos para desprezar-me!
SOFIA – Para desprezá-lo não; mas para fugi-lo. Creio que vão tocar uma valsa.
LUÍS – Vai dançar? Com quem?
SOFIA – Com o comendador Vieira.
LUÍS – Com esse homem! Oh! mas ele é feliz! é solteiro!
SOFIA – Não diga isso. Que loucura!
LUÍS – Quando penso que a senhora pode amar alguém, perco a razão!
SOFIA – Não pense nisto. Quer? Eu lhe prometo que não amarei a ninguém.
LUÍS – Nunca?... Oh! São promessas que não se cumprem, e nem se podem cumprir. Não disse a pouco que ninguém pode governar seu coração? Não! Seja feliz! A desgraça deve recair, unicamente sobre mim; não tenho direito à semelhante sacrifício.
SOFIA – Quem lhe diz que seja um sacrifício! Não acredita que hajam almas incapazes de amar? Sou uma delas. Viverei para a amizade e as afeições calmas da família!
LUÍS – É impossível!
SOFIA – Eu lhe provarei o contrário. Quer ser meu amigo?
(Entram Lina e Frederico; eles afastam-se passeando.)
CENA VIII
editarLina e Frederico.
LINA – Ainda não me disse como tem achado o baile, Sr. Frederico?
FREDERICO – Brilhante, D. Lina! E nem podia deixar de ser assim. Esperei-o com tal ansiedade!
LINA – Contava então divertir-se muito?
FREDERICO – Tinha a esperança de encontrá-la e de poder enfim falar-lhe.
LINA – Como! O senhor já me conhecia?
FREDERICO – E a Sr.a, D. Lina, não me conhecia também?
LINA – Não me lembro.
FREDERICO – Não se lembra de me ter visto? Quando esteve em Santa Teresa não costumava passear todas as tardes no jardim?
LINA – Às vezes.
FREDERICO – Uma tarde o vento arrebatou seu chapéu. Não se recorda de quem o apanhou e lhe entregou por entre as grades?
LINA – Faz tanto tempo já que estive em Santa Teresa.
FREDERICO – Fazem seis meses. É muito para quem esperava; mas bem pouco para esquecer. Tinha enfeitado seu chapéu com as rosas que colhera e ficou-me uma nas mãos. Quando ia dar-lhe, a senhora fugiu. Guardei-a.
LINA – Ainda a conserva?
FREDERICO – Ainda; mas não tenha o menor receio; sei que devo restitui-la.
LINA – Não lhe pedi.
FREDERICO – Consente que eu a guarde então?
LINA – Consinto... se quiser.
FREDERICO – E desta vez não esquecerá?
LINA – Tanto como da primeira. Quando deixamos de ver alguém por muito tempo é natural esquecermo-nos dele.
FREDERICO – Não foi por minha vontade, D. Lina. Tive uma enfermidade bem grave!
LINA – Ah! meu Deus! Bem o coração me adivinhou.
FREDERICO – Que diz! Pensa algumas vezes em mim? Já não sinto o que sofri, porque foi essa doença que a fez confessar.
LINA – Não confessei cousa alguma; e não vá por isso adoecer outra vez. Onde estará mamãe?
(Um cavalheiro toma o braço de Lina.)
CENA IX
editarOs mesmos, Luís, Sofia e Vieira.
LINA – Não valsas hoje Sofia? Tu que és tão apaixonada.
SOFIA – Estou à espera de meu par.
LINA – Aqui?... A valsa se acabará antes que te encontre.
SOFIA – Não se perde muito. Estou gozando deste fresco.
LUÍS – Que é mais agradável por certo do que uma valsa com o comendador Vieira.
FREDERICO – E a senhora não valsa?
LINA – Não senhor; mamãe não quer.
VIEIRA – A que tempo que a procuro, D. Sofia. Vai tocar a nossa valsa.
SOFIA – Estava-o esperando.
CENA X
editarRibeiro e Frederico.
RIBEIRO – Não danças agora?
FREDERICO – Não senhor. Já dancei bastante.
RIBEIRO – Se queres acende teu charuto. Tens te divertido?
FREDERICO – Muito, mais do que esperava! O baile está muito animado, e a reunião é a melhor possível.
RIBEIRO – O que há de mais distinto no Rio de Janeiro. Bonitas senhoras, toilettes magníficos. Mais do que é preciso para atordoar um moço de vinte anos. Lembra-te porém do que te disse: toma cuidado com teu coração; não o esperdices nessa galanteria de salão, que torna um homem frívolo e incapaz de afeições sérias.
FREDERICO – Pode estar descansado a este respeito, meu pai. Sinto que quando amar uma vez, será por toda a minha vida.
RIBEIRO – Bem sei; conheço tua alma; por isso mesmo não a deves entregar senão à mulher que for digna de a receber.
FREDERICO – Seria a desgraça de minha vida. Mas creio que o coração tem seu instinto; se algum dia sentir uma afeição, a moça que a inspirar deve ser um anjo de pureza.
RIBEIRO – Como achaste essa moça à quem davas o braço a pouco?
FREDERICO – D. Lina Viana?
RIBEIRO – Sim. Vi-te dançar com ela.
FREDERICO – É uma linda moça! Que semblante angélico! Respira a bondade de sua alma.
RIBEIRO – É muito interessante, e tem tanto espírito como beleza.
FREDERICO – Conversei com ela pouco tempo, mas fiquei encantado. Meu pai tem relações com a família?
RIBEIRO – Conheço-a de vista apenas; mas isto não é motivo para que deixes de frequentar sua casa se te oferecerem. Quem te apresentou a ela?
FREDERICO – O Sr. Tavares. A mãe recebeu-me muito bem. É uma excelente senhora.
RIBEIRO – Dizem que não é feliz. Tem sofrido muito!
FREDERICO – Não parece! Quem a vê ao lado da filha toma-a por uma irmã mais velha. Deve ter sido muito bonita.
RIBEIRO – Nem fazes ideia! Era linda!...
FREDERICO – Ah! meu pai a conheceu quando moça?
RIBEIRO – Vi-a algumas vezes, de passagem. E o marido como te tratou?
FREDERICO – Com alguma frieza.
RIBEIRO – Não dês importância a isto! Ele é naturalmente seco!... Deves ir adquirindo relações por ti mesmo; eu vivo bastante retirado, já não tas posso dar! (toma-lhe o braço). Trata de frequentar essa casa.
CENA XI
editarVieira e Tavares.
TAVARES – Então o que foi isto comendador? De que ri-se?
VIEIRA (rindo) – Uma descoberta interessante! magnífica!
TAVARES – Conte-nos isso, não seja egoísta. Alguma anedota?
VIEIRA – É cousa melhor! Mas o senhor não a conheceu, não pode achar graça.
TAVARES – Diga sempre.
VIEIRA – Ouviu falar alguma vez de uma célebre Carolina? Uma mulher que outrora foi o escândalo do Rio de Janeiro?
TAVARES – Alguma mulher da rua?
VIEIRA – Da praça pública, meu caro Sr. Tavares. Um verdadeiro demônio em carne e osso.
TAVARES – É gente que não conheço, nem mesmo de nome, comendador. Um homem sério, como eu, deve zelar sua reputação.
VIEIRA – Certamente! A gente de nossa classe não se mistura com essa ralé. Pois a tal Carolina depois de fazer mil diabruras, entre outras a de arruinar um pobre rapaz a quem a fortuna do pai fazia cócegas na algibeira, caiu na miséria.
TAVARES – Era de esperar.
VIEIRA – Supunha que ela tinha morrido. Estive alguns anos ausente do Rio de Janeiro, tratando de certos negócios, e nunca mais tive notícias dela, nem de sua companheira, uma tal Helena, uma verdadeira harpia.
TAVARES – Mas pelo que vejo, o senhor as conheceu de perto.
VIEIRA – Nada, meu amigo; apenas de reputação.
TAVARES (rindo) – De reputação! A palavra tem seu chiste.
VIEIRA (ri-se) – Veio a propósito!... De reputação unicamente. Fui sempre um homem de salão, meu caro Sr. Tavares; tirando-me disto, estou fora do meu elemento. Figure qual não seria meu espanto julgando reconhecer a pouco.
TAVARES – Quem? A tal moça?
VIEIRA – A celebre Carolina.
TAVARES – Aonde? Viu-a passar na rua?
VIEIRA – Vi-a passar na sala, nesta sala de baile.
TAVARES – Não é possível! Uma semelhante ousadia, comendador!
VIEIRA – O mais engraçado porém, não é isto. Sabe quem lhe dava o braço?
TAVARES – Algum figurão.
VIEIRA – O Pinheiro! O sujeito a quem ela depenou! O senhor não se ri?... Não acha cômico?
TAVARES – Ao contrário, comendador, se isto é verdade acho que é sumamente grave; e que os homens sisudos devem lamentar um fato desta ordem.
CENA XII
editarOs mesmos, o Barão e D. Paulina.
D. PAULINA – Então, meus senhores, não vão dançar? De que ri-se de tão boa vontade, comendador?
TAVARES – De uma cousa que devia excitar outro sentimento que não a hilaridade.
VIEIRA – O Sr. Tavares é um caráter severo, D. Paulina; por isso não repare. Mas a cousa é para rir!
D. PAULINA – E não se pode saber o que é. Serviremos de juízes.
VIEIRA – Se V. Ex. quer aceitar meu braço, terei dous prazeres; o de satisfazê-la, e gozar da ventura de sentir-me a seu lado.
D. PAULINA – O Sr. Barão permite? (Vieira e Paulina afastam-se.)
TAVARES – Ainda não sabe?
BARÃO – O que meu senhor?
TAVARES – Que a moralidade pública acaba de ser enxovalhada.
BARÃO – Não me admira, Sr. Tavares; quando a moralidade pública aperta a mão a um comendador Vieira, não pode esperar outra cousa.
TAVARES – Ou V. Ex. não me entendeu; ou sou eu que não entendo a V. Ex.
BARÃO – É possível uma e outra cousa.
CENA XIII
editarOs mesmos, Carolina, Pinheiro e Meneses.
CAROLINA – Sentemo-nos ali. Enquanto se dança poderemos continuar a nossa conversa.
PINHEIRO – Sim, minha senhora.
TAVARES – Não tem querido dançar, D. Carolina.
CAROLINA – Já gozo desse direito, Sr. Tavares; tenho uma filha moça que faz as minhas vezes.
TAVARES – Ora isso não impede! Mas com licença... Vou-me retirando.
CAROLINA – Ainda é cedo. (Entra Meneses.)
TAVARES – Acabo de saber uma cousa que me tira a vontade de ficar aqui. A reputação de Sofia me impõe uma grave responsabilidade. E V. Ex. também está no mesmo caso.
CAROLINA – Não o compreendo, Sr. Tavares. A reunião em que nos achamos me tranquiliza a este respeito. Demais, deposito a maior confiança em minha filha.
TAVARES – Quando a senhora souber...
MENESES – O que Sr. Tavares?
TAVARES – Boa-noite! Boa-noite! Um homem sisudo não se deve incumbir de divulgar certos escândalos!
MENESES (ao barão) – Velho jesuíta!
BARÃO (a Meneses) – Escuta.
CAROLINA (idem) – Meu amigo, desejava falar-lhe.
MENESES – Já lhe quis oferecer meu braço por duas vezes, mas fui prevenido.
CAROLINA – Eu o aceitarei daqui a um instante.
(Meneses e Araújo afastam-se de um lado, Carolina e Pinheiro vão sentar-se do outro.)
BARÃO – Não sabes? o Vieirinha reconheceu Carolina!
MENESES – Quem to disse?
BARÃO – Ninguém! Suspeitei por certas palavras do Tavares.
CENA XIV
editarCarolina, Pinheiro, Meneses e Araújo.
CAROLINA – Repito, Sr. Pinheiro! Todo o mal que eu lhe fiz outrora não vale a punição que sofro neste momento. Ah! ninguém pode imaginar que esforço de vontade é necessário para que me anime a dar o braço ao senhor... ao senhor, que me conheceu, e sabe o que fui!
PINHEIRO – Não fale mais disto, D. Carolina; ninguém neste mundo está isento de culpa; e quem remiu a sua tão nobremente, como a senhora, tem o direito de esquecer o passado.
CAROLINA – Não posso nem devo esquecê-lo. É preciso que o tenha sempre vivo e presente para me punir e reparar o mal que fiz. Nestes treze anos, é essa esperança que me tem feito viver. Deus, no meio das torturas que sofro, me deu um supremo consolo, permitindo que eu fechasse algumas chagas que abri. Faltava uma... a miséria a que o reduzi! Mas ele compadeceu-se de mim, tirando-me este peso da consciência, e restituindo-lhe por minha mão, o que por minha mão lhe arrancou!
PINHEIRO – Que diz D. Carolina?
CAROLINA – Tenho uma amiga, filha de um rico fazendeiro; é uma moça boa e pura como um anjo, e bonita. Não lhe conviria esse casamento?
PINHEIRO – .Ora! D. Carolina! Na posição em que estou, nem um pai se animará a dar-me sua filha. Além de que essa senhora nem sabe que existo.
CAROLINA – Ela já o estima, Sr. Pinheiro. Se não me engano já lhe tem simpatia.
PINHEIRO – A mim? então já me viu?
CAROLINA – Já.
PINHEIRO – Aonde?
CAROLINA – Já o viu pelos meus olhos. O senhor não sabe que o coração puro de uma menina, é uma cera branda onde se imprime o que se deseja? Vali-me da amizade para imprimir nele uma afeição, que deve fazer a felicidade de ambos. Seus pais lhe deixam a liberdade de escolher um marido, mesmo pobre. Ainda duvida? Não aceita?
PINHEIRO – O que a senhora me diz é tão novo e estranho para mim, que não lhe sei responder, D. Carolina.
CAROLINA – Reflita, Sr. Pinheiro! Si aceitar, eu lhe apresentarei. Tive ontem notícias dela; está a chegar a corte; talvez no dia dos anos de Lina jante em minha casa.
PINHEIRO – Não posso saber seu nome?
CAROLINA – Antes do senhor decidir-se a vê-la seria uma indiscrição de minha parte. Reflita já lhe disse. Esse casamento será uma alegria para mim. Dando a ambos a felicidade, cumpro meu dever de amizade para ela, e reparo uma falta. Quando me dará a resposta?
PINHEIRO – Amanhã, se quiser.
CAROLINA – Bem; agora permita-me que o deixe. Seu. braço meu amigo.
BARÃO – Não são horas de retirar-se Carolina?
CAROLINA – Estou à espera de Luís; veja se o resolve.
CENA XV
editarCarolina e Meneses.
(Passeiam de um lado a outro do terraço.)
MENESES – Tem-se divertido, Carolina?
CAROLINA – Essa pergunta, meu amigo, não vem do seu coração. Eu a tomaria por um sarcasmo, se não percebesse sua perturbação, vendo-me aqui no meio de um baile.
MENESES – Confesso, Carolina, que não esperava encontrá-la nesta casa.
CAROLINA – Julga que fiz mal? Diga, meu amigo; seja severo como costuma. Sabe que essa severidade é um direito da sua velha amizade; e um de seus maiores títulos à minha estima. Fiz mal, não é verdade?
MENESES – Cometeu uma imprudência; seu lugar não é aqui, Carolina. Os anjos não podem roçar nos tapetes de veludo que cobrem os salões; nem viver nesse espaço intermédio onde gravita a sociedade. Ou eles perdem as asas e caem no pó, ou soltam o voo e plainam sobre este mundo de misérias e prejuízos. No seio de sua família, na solidão de sua consciência, no mistério de sua inteligente caridade, é você uma santa, Carolina; aqui neste baile, não passa de uma mulher infeliz que a sociedade lamenta, mas condena.
CAROLINA – E a sociedade tem razão!
MENESES – Como instituição, como lei humana, decerto!
CAROLINA – Reconheço que não devia ter vindo; mas talvez que o motivo que me trouxe justifique à seus olhos essa falta.
MENESES – Luís exigiu?
CAROLINA – Não.
MENESES – Foram então as instâncias de Lina?
CAROLINA – Em parte; mas o principal motivo foi outro. Eu lhe digo. Até hoje, Meneses, tenho vivido entre-os meus, na intimidade de alguns amigos sinceros que me cercam de atenções e respeitos que não mereço. No retiro da fazenda ou mesmo aqui na corte, a reprovação do mundo se cá por fora fazia algum rumor, não penetrava naquele santuário da família e da amizade. Eu não sentia essa reprovação; e devia senti-la para expiação dos meus erros. É justo que a mulher que outrora escandalizou a sociedade e afrontou a indignação pública, de cabeça erguida e sorriso desdenhoso, se curve diante dessa mesma sociedade, esmagada pelo desprezo público, com a fronte abatida, e as faces cuspidas dos risos e olhares de escárnio que lhe atiram passando.
MENESES – Carolina!
CAROLINA – É justo, sim! Eis o que vim fazer a este baile. Não foi a mulher infeliz, como disse há pouco; foi a vítima expiatória de um sacrifício, que arrastada pela consciência, atravessou esta noite os salões dourados presa ao braço do seu antigo amante, a quem ela arruinou! Ouvi dizer que antigamente se atavam os assassinos aos cadáveres de suas vítimas! Pois eu tive essa coragem, meu amigo! Não era preciso tanta para matar-me, acredite!
MENESES – Acredito, Carolina; esse suplício deve ser cruel, e não tinha o direito de impô-lo à sua alma. Mas basta; é tempo de retirar-se. Lembre-se que tem uma filha, um marido, e amigos sinceros. Se esta imprudência der lugar a algum fato desagradável não será a única a sofrer.
CAROLINA – Por minha vontade já me tinha retirado; há muito senti que me faltam as forças. Leve-me ao toilette. (Saem.)
CENA XVI
editarVieira e D. Paulina.
VIEIRA – Não é possível encontrá-la! Pois há pouco pareceu-me vê-la aqui?
D. PAULINA – O senhor diz que ela tem um vestido cor de café com enfeites pretos...
VIEIRA – De veludo!
D. PAULINA – Só me lembra de ter visto assim D. Carolina, a mulher do Viana.
VIEIRA – Que Viana? A tal chama-se Carolina também.
D. PAULINA – Viana...Um sujeito de Rezende.
VIEIRA – Não conheço! mas esta não pode ser casada, D. Paulina! Não há homem com semelhante coragem.
D. PAULINA – Vejamos deste lado!
VIEIRA – Mas lembre-se do que lhe disse. Todo o serviço tem sua recompensa.
D. PAULINA – O senhor assegura-me que ela foi amante de meu marido?
VIERA – Juro-lhe.
D. PAULINA – Pois bem; se for verdade, prometo-lhe que me vingarei. Está satisfeito?
VIEIRA – E eu serei o mais feliz dos mortais!
D. PAULINA – Meu marido terá o que merece!
CENA XVII
editarMeneses, Carolina e Fernando.
(Carolina vem de capa, pronta para retirar-se.)
MENESES – Se Luís não quiser ir, eu tomo sobre mim a responsabilidade. Não deve ficar aqui mais um instante!
FERNANDO – Como! Já se retira, D. Carolina?
CAROLINA – É verdade! Desculpe-me!
MENESES – A senhora está incomodada.
FERNANDO – Ao menos quero ter a honra de dar-lhe o braço até ao seu carro. (Meneses solta o braço de Carolina.)
MENESES – Vou buscar Lina.
CAROLINA – Sim, meu amigo; e não se demore. (Meneses sai.)
FERNANDO – Não me quis dar esta noite o prazer de dançar uma contradança comigo; e retira-se sem deixar-me se quer uma esperança!
CAROLINA – Tenha compaixão de mim, Sr. Fernando!
FERNANDO – Perdoe-me se a ofendi, D. Carolina. Não julguei que fosse hoje um crime pedir-lhe hoje um pouco da afeição que lhe mereci em outro tempo.
CAROLINA – É justamente porque me conheceu nesses tempos; porque foi testemunha da minha vergonha, que o senhor era o menos próprio para me falar em amor. Julga-me pelo que fui?
FERNANDO – Não diga isso, minha senhora.
CAROLINA – Não era sua intenção talvez; mas não se lembrou que minha consciência não podia dar outra significação às palavras que me tem dito esta noite.
FERNANDO – Estava tão longe de pensar que as tomasse nesse sentido, sabendo o respeito com que a trato!...
CAROLINA – Esse respeito eu o mereço, não pela virtude que não tenho, mas pela desgraça que pesa sobre mim. O senhor queria há pouco que eu lhe desse uma esperança criminosa; eu deixo-lhe uma melhor realidade. Dê um olhar à sua mulher; verá que D. Paulina merece mais do que outra seu amor e a sua estima.
CENA XVIII
editarOs mesmos, D. Paulina e Vieira.
(D. Paulina vendo o marido solta o braço de Vieira; este esquiva-se.)
D. PAULINA – Senhor, isto é uma indignidade!
FERNANDO – O quê, senhora?
D. PAULINA – Receber em minha casa uma dessas mulheres à toa, que depois de ter praticado toda a casta de escândalos, tem a mania de se fingirem honesta!... Num baile!
FERNANDO – Não é possível, Paulina. Quem lhe disse? (Perturbação de Carolina.)
D. PAULINA – Uma pessoa que a conheceu outrora afirmou-me que a tinha visto... na sala, há pouco. É uma célebre Carolina, que o senhor bem conhece!
CAROLINA – Ah!
FERNANDO – Cale-se!
D. PAULINA – Oh! Eu sei que foi sua amante; e é por isso que o senhor teve a coragem de convidá-la; mas devia saber que não levo a minha condescendência a este ponto!
FERNANDO – Não vê, senhora, que está representando uma cena ridícula? Quer que a ouçam?
D. PAULINA (para Carolina.) – É incrível, minha amiga, o como esses senhores nos tratam, a nós suas mulheres. Não respeitam nem mesmo as conveniências! Mas que tem a senhora?
CAROLINA – Nada! Queria retirar-me! Sinto-me morrer!...
FERNANDO – Venha, minha senhora!
D. PAULINA (a Fernando) – Ah! pensa que isto há de ficar assim!... Está enganado! Exijo que o senhor faça já sair de minha casa sua amante!
FERNANDO – Não seja imprudente, minha mulher!
D. PAULINA – Bem! sei o que devo fazer! Vou já mandar expulsá-la pelos meus criados! (Meneses aparece.)
CAROLINA – É justo, meu Deus (desmaia.)
FERNANDO – Eis o que a senhora queria.
D. PAULINA – O quê? Que significa isto.
MENESES – Eu lhe digo, minha senhora! (de parte e a meia voz) Só a esposa honesta tem o direito de atirar a pedra à pecadora que se regenerou!...